São Paulo, sábado, 22 de abril de 2006

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FADIGA DE ASILO

A boa notícia é que, graças à melhora na situação política de países como Afeganistão, Angola e Serra Leoa, o número de refugiados no planeta é o menor em 25 anos. De acordo com o mais recente relatório do Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (Acnur), existem hoje 9,2 milhões de pessoas na condição de asiladas.
O estudo, porém, também traz algumas más notícias. A mais preocupante delas é que parece estar havendo uma espécie de "fadiga de asilo". De acordo com o alto comissário, o português Antonio Guterres, a confusão entre refugiados e imigrantes econômicos tem levado ao crescimento da intolerância e do racismo.
Não são poucos os que acreditam que oferecer asilo a quem precisa significa abrir as portas ao terrorismo. Na verdade, entretanto, os refugiados costumam ser as primeiras vítimas do terror, não seus agentes.
Outro ponto importante levantado no relatório é o das migrações internas. Mudanças na dinâmica dos conflitos e as crescentes dificuldades para obter asilo no estrangeiro têm levado contingentes crescentes de pessoas a abandonar seus lares e mudar-se para outras áreas do país.
O caso mais emblemático dessa modalidade de deslocamento é o do conflito em Darfur, que fez centenas de milhares fugirem dessa região no oeste do Sudão para outras partes do país, onde vivem em situação precária. Na América Latina, há o caso da Colômbia, onde milhares deixaram suas casas que ficavam em rotas disputadas por traficantes de drogas.
Cabe aos governantes seguir cumprindo a Convenção do Estatuto dos Refugiados, de 1951, que estabelece direitos e deveres de asilados, e mostrar à população que conceder asilo não significa abarrotar o país de imigrantes nem importar o terror. Ir para trás em relação à convenção da metade do século 20, como algumas nações insinuam, seria um revés civilizatório imperdoável.


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