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CLÓVIS ROSSI
Somos todos "mensaleiros"?
SÃO PAULO - Deu na Folha de ontem, em um cantinho do caderno
Cotidiano: o assalto nosso de cada
dia a banco foi no marco zero de São
Paulo, a praça da Sé, em plena uma
hora da tarde de dia útil.
A novidade foi a maneira encontrada pelos quatro assaltantes para
desviar a atenção da polícia: jogaram
para o alto o dinheiro roubado (no
total, R$ 2.070).
Rotina também no ponto seguinte
do relato: "Quem passava pela praça
pegou o quanto pôde -o dinheiro
não foi recuperado".
Um olhar frio sobre o fato diria que,
de repente, um punhado de brasileiros torna-se cúmplice de um assalto a
banco. De certa forma, é uma paródia de situação recentemente vivida
em Brasília: uma pacata cidadã vai
ao banco, no caso o BMG, só para pagar a fatura da TV a cabo e, de repente, sai de lá com uma bolada em dinheiro, pelo menos na versão originalmente contada pelo deputado
João Paulo Cunha para justificar a
ida de sua mulher ao BMG.
Dá para suspeitar que, bem lá no
fundo, somos todos "mensaleiros". Se
tem dinheiro caindo do céu, para que
perguntar a origem? Se caiu supostamente do céu, para que devolver?
Nem Deus nem o diabo, afinal, têm
um tesoureiro devidamente nomeado e fácil de reconhecer na praça da
Sé ou em qualquer outra. Se, pelo menos, Marcos Valério estivesse passando por lá no momento adequado...
Dois dos assaltantes do banco foram presos. Nenhum dos transeuntes-cúmplices. Mais ou menos como
na história do "mensalão", não é
mesmo?
Fico com a tentação de achar que
somos todos "mensaleiros". Dá vontade de propor uma enquete dessas
que proliferam como praga na internet: você devolveria o que lhe caísse
nas mãos nessas circunstâncias? Mas
teria que vir acompanhada de outra
enquete: você respondeu honestamente à primeira? É melhor deixar
pra lá. Dá para imaginar o resultado.
@ - crossi@uol.com.br
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