|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ANTONIO DELFIM NETTO
Banco Central dependente
O Banco Central tem sérios
problemas para atingir a taxa de
inflação "desejada" (5,5%), que é o limite superior da "meta" estabelecida
originalmente (3,5%, ou dentro dos limites 1,5% e 5,5%). Isso se deve em
boa parte aos aumentos dos preços
"administrados", que deverão ultrapassar a marca dos 7%. Terminamos
o primeiro quadrimestre do ano com
uma taxa de crescimento anual do IPCA da ordem de 8%. Como a média
de crescimento mensal do índice nos
últimos oito meses de 2001 foi da ordem de 0,68%, para atingir 5,5% em
dezembro, seria preciso uma redução
de 2,5% -ou 0,31%, em média, por
mês.
Com esses números, a média de aumento mensal do IPCA nos próximos
oito meses terá de ser da ordem de
0,37% (0,68% menos 0,31%), o que
não é tarefa simples. Desde o fim do
ano 2000, a taxa de crescimento de 12
meses do IPCA tem revelado um aumento monotônico (com pequenas
flutuações) a partir de 6%. Os efeitos
das manipulações dos juros foram
amplamente superados pelas consequências da barbeiragem energética e
da flutuação do dólar. Isso tem elevado consistentemente a taxa de inflação
anual, mesmo com o baixo crescimento, com o aumento do desemprego e com a redução do salário real. A
inflação passou de 6% em dezembro
de 2000 para 8% em abril de 2002 e,
desde meados de 2001, encontra-se
acima do limite superior da meta.
No entanto têm mais interesse do
que esses números algumas manifestações de economistas que parecem
esquecidos de qual é o papel do Banco
Central. Sua argumentação sugere
que consideram a "taxa real de juro"
como uma constante da natureza, independente da conjuntura. O que sabemos (e parece bem comprovado
empiricamente) é que a política monetária é neutra no longo prazo, isto é,
é incapaz de acelerar o crescimento
econômico. Ela pode ter algum efeito
cosmético de curto prazo, que, em geral, se paga com maior inflação no futuro. Por outro lado, sabemos (com
comprovação empírica menor) que a
taxa de juro real de equilíbrio depende
dos choques tecnológicos que produzem rápido crescimento e aumento da
taxa de retorno do capital. Em outras
palavras, a taxa de juro real de equilíbrio (que é igual à taxa de retorno do
capital produtivo) varia de acordo
com o estado da atividade econômica:
aumenta quando o crescimento é rápido e diminui quando ele cai.
Se a política monetária é neutra, qual
deve ser o comportamento do Banco
Central ao fixar a sua taxa de juros? Estabelecê-la de forma a manter uma situação adequada de liquidez na economia -nem inflacionária, nem deflacionária- de forma que os mecanismos que estimulam os investimentos e o emprego possam cumprir o seu
papel, gerando o crescimento. Não será o eventual estímulo vindo de uma
taxa de juro real inferior à taxa de retorno da economia que garantirá o desenvolvimento econômico com equilíbrio interno ou externo. O problema
do Banco Central no Brasil é que ele
não tem liberdade para fixar a taxa de
juro real de equilíbrio, porque ele é dependente da imensa dívida interna e
do enorme passivo externo construídos nos últimos oito anos.
Antonio Delfim Netto escreve às quartas-feiras
nesta coluna.
dep.delfimnetto@camara.gov.br
Texto Anterior: Rio de Janeiro - Carlos Heitor Cony: A Copa e a vacina Próximo Texto: Frases
Índice
|