![]() São Paulo, quarta-feira, 22 de maio de 2002 |
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TENDÊNCIAS/DEBATES A Lei das Queimadas
JOSÉ GOLDEMBERG
Tal projeto de lei estabelece um claro cronograma para eliminação gradativa da queima e é extremamente generoso, dando amplo tempo aos usineiros para mudarem a forma de plantar cana e se adequarem a ele. Prevê ainda que o Poder Executivo, com a participação e colaboração dos municípios onde estão as agroindústrias canavieiras e dos sindicatos rurais, criará programas visando à requalificação profissional dos trabalhadores, desenvolvidos de forma conjunta com os respectivos sindicatos das categorias envolvidas -além disso, permitirá o aproveitamento energético da queima da palha da cana-de-açúcar, de modo a possibilitar a venda do excedente de eletricidade gerado . Considerando-se a existência de até 25 toneladas de palha por hectare, haverá um acréscimo de 65 milhões de toneladas de biomassa às usinas termoelétricas, que serão capazes de transformar em eletricidade o que hoje é convertido em indesejável poluição atmosférica. Há ainda dispositivos na lei que prevêem revisão das metas, levando em conta avanços tecnológicos, mas sempre sem prejuízo da eliminação da queima de palha de cana. Tudo isso parece consensual , mas o projeto prevê ainda, em suas disposições transitórias, que os plantadores de cana-de-açúcar que não atingirem o percentual estabelecido no primeiro ano (2002), de 20% na área mecanizável, deverão apresentar plano de adequação à Secretaria do Meio Ambiente, no prazo de 90 dias da data de publicação da lei, para elaboração do Termo de Ajustamento de Conduta, de forma a atender às metas estabelecidas, gradativamente, até o ano de 2006. Este dispositivo é essencial para assegurar ao poder público meios de fiscalizar a execução da lei em defesa do interesse público. Afinal, é um absurdo fazer inúmeras exigências ambientais às indústrias do Estado, tentar melhorar a disposição de lixo e resíduos tóxicos, multar os caminhões que emitem fumaça e inspecionar os automóveis para que estes emitam menos poluentes e, simultânea e paradoxalmente, permitir a queima descontrolada da cana-de-açúcar, que em certas épocas do ano inferniza a população de parte do Estado. Essa é a razão pela qual uma nova lei das "queimadas" é necessária. José Goldemberg, 73, professor do Instituto de Eletrotécnica e Energia da USP, primeiro ocupante da cátedra Joaquim Nabuco na Universidade de Stanford (EUA), é secretário do Meio Ambiente do Estado de São Paulo. Foi reitor da USP (1986-89), secretário da Ciência e Tecnologia e ministro da Educação (governo Collor). Texto Anterior: Frases Próximo Texto: Ricardo Montoro: "Res publica" ou "cosa nostra"? Índice |
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