São Paulo, sábado, 22 de junho de 2002

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ALARMISMO E PRUDÊNCIA

Não surgiu no Brasil fato novo que justifique o péssimo humor do mercado financeiro. Ontem o pessimismo levou o dólar a se aproximar da cotação mais alta desde a criação do real, o risco Brasil a nível recorde desde 1999 e a cotação dos títulos da dívida externa brasileira ao menor nível desde maio de 1999. Para completar, a bolsa de valores teve nova queda expressiva.
No momento em que se forma um clima tão negativo, cujo real fundamento é questionável, é importante destacar que os ativos financeiros dos países emergentes como um todo, salvo raras exceções, tiveram forte desvalorização nos últimos dias. Assim, embora a queda verificada no Brasil tenha sido especialmente intensa -acirrada pela piora do risco de crédito atribuído ao país por agências de avaliação de risco-, ela se inscreveu numa tendência global.
O que parece explicar essa tendência é o aumento da aversão ao risco dos investidores internacionais -associado, entre outros fatores, às perdas provocadas pela queda rápida do dólar, sobretudo ante o euro.
Temendo prejuízos nas suas aplicações de menor risco, os investidores procuram se desfazer de ativos de maior risco de países emergentes. O resultado é uma pressão de venda e a queda dos preços desses ativos.
O fato de que o humor dos investidores internacionais ainda tem muito peso sobre o desempenho da nossa economia é indício de que a vulnerabilidade das nossas contas externas continua excessiva. Mas isso não significa que o governo brasileiro esteja sem instrumentos para estancar a escalada do nervosismo -embora a hipótese de recorrer de novo ao FMI tenha sido posta em xeque pelo secretário do Tesouro dos EUA, que declarou que se opõe à concessão de crédito adicional ao Brasil.
Quando sugerem um paralelo entre o Brasil e a Argentina -onde se chegou à moratória das dívidas interna e externa -, as forças políticas da situação acabam por dar munição aos alarmistas. Mais prudente seria sublinhar que, por ter um regime de câmbio flutuante, o Brasil tem condições muito mais favoráveis para sobrepujar a instabilidade. Talvez com sacrifício da meta de inflação, por causa da alta do dólar. Provavelmente com menos crescimento do que até há pouco se esperava, pela necessidade de encarecer ainda mais o crédito. Mas quase certamente sem necessidade de descumprir contratos relativos à dívida interna.



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