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ALARMISMO E PRUDÊNCIA
Não surgiu no Brasil fato novo que justifique o péssimo
humor do mercado financeiro. Ontem o pessimismo levou o dólar a se
aproximar da cotação mais alta desde a criação do real, o risco Brasil a
nível recorde desde 1999 e a cotação
dos títulos da dívida externa brasileira ao menor nível desde maio de
1999. Para completar, a bolsa de valores teve nova queda expressiva.
No momento em que se forma um
clima tão negativo, cujo real fundamento é questionável, é importante
destacar que os ativos financeiros
dos países emergentes como um todo, salvo raras exceções, tiveram forte desvalorização nos últimos dias.
Assim, embora a queda verificada no
Brasil tenha sido especialmente intensa -acirrada pela piora do risco
de crédito atribuído ao país por
agências de avaliação de risco-, ela
se inscreveu numa tendência global.
O que parece explicar essa tendência é o aumento da aversão ao risco
dos investidores internacionais
-associado, entre outros fatores, às
perdas provocadas pela queda rápida
do dólar, sobretudo ante o euro.
Temendo prejuízos nas suas aplicações de menor risco, os investidores procuram se desfazer de ativos de
maior risco de países emergentes. O
resultado é uma pressão de venda e a
queda dos preços desses ativos.
O fato de que o humor dos investidores internacionais ainda tem muito peso sobre o desempenho da nossa economia é indício de que a vulnerabilidade das nossas contas externas continua excessiva. Mas isso não
significa que o governo brasileiro esteja sem instrumentos para estancar
a escalada do nervosismo -embora
a hipótese de recorrer de novo ao
FMI tenha sido posta em xeque pelo
secretário do Tesouro dos EUA, que
declarou que se opõe à concessão de
crédito adicional ao Brasil.
Quando sugerem um paralelo entre o Brasil e a Argentina -onde se
chegou à moratória das dívidas interna e externa -, as forças políticas da
situação acabam por dar munição
aos alarmistas. Mais prudente seria
sublinhar que, por ter um regime de
câmbio flutuante, o Brasil tem condições muito mais favoráveis para
sobrepujar a instabilidade. Talvez
com sacrifício da meta de inflação,
por causa da alta do dólar. Provavelmente com menos crescimento do
que até há pouco se esperava, pela
necessidade de encarecer ainda mais
o crédito. Mas quase certamente sem
necessidade de descumprir contratos relativos à dívida interna.
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