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TENDÊNCIAS/DEBATES
Deve-se incentivar a clonagem terapêutica?
NÃO
Os fins não justificam os meios
ESTEVÃO BETTENCOURT
Ao falar de clonagem, deve-se
distinguir a clonagem reprodutiva
da terapêutica.
A clonagem reprodutiva já esteve
mais em voga. O bom senso pondera os
inconvenientes: daria origem a uma nova forma de escravidão, pois produziria
um ser humano sem pai e mãe convencionais, muito necessários ao desenvolvimento psicológico da criança; um ser
humano dependente de um par mais
velho e sujeito a doenças e envelhecimento precoce.
Embora o dr. Severino Antinori proclame o êxito de experiências um tanto
clandestinas, há quem duvide da realidade desse sucesso.
Muito mais atraente é a perspectiva de
se produzirem embriões dos quais serão extraídas células-tronco para transplante em pacientes de doenças incuráveis (Parkinson, Alzheimer, diabetes
etc.). A célula-tronco, com adequada
substância adicionada, pode dar origem
ao tecido desejado, regenerando assim
o organismo afetado. Ora, esse procedimento, por mais sedutor que seja, é ilícito não só aos olhos da fé, mas também
aos olhos da razão.
Com efeito, a partir das pesquisas do
dr. Jerome Lejeune (1926-94), está comprovado que o concepto é autêntico ser
humano desde a fecundação do óvulo
pelo espermatozóide; não se pode falar
de pré-embrião até o 14º dia nem se admite o prazo de 40 ou 80 dias para que
haja a animação humana.
São palavras do dr. Lejeune: "A vida
começa no momento em que toda a informação necessária e suficiente se encontra reunida para definir o novo ser.
Portanto ela começa exatamente no
momento em que toda a informação
trazida pelo espermatozóide é reunida à
informação trazida pelo óvulo. Está então realizado um novo ser. Aquele que
mais tarde chamarão Pedro, Paulo ou
Madalena ("Pensées du Prof. J. Lejeune", Paris)".
Se assim é, vê-se quão iníquo é o procedimento. Não é lícito produzir um ser
humano com a intenção premeditada
de o explorar como coisa e depois matá-lo ou congelá-lo por cinco anos e eliminá-lo, desde que um casal benévolo não
o venha procurar. A finalidade boa não
justifica os meios maus. Aliás, a própria
ciência sabe também que, no adulto,
existem células-tronco que podem
atender à finalidade terapêutica visada.
A ciência sem consciência ética pode
se voltar contra o homem. Afinal, ela
deve ser cultivada em favor do homem,
e não o homem em favor da ciência.
Muito a propósito decidiu o Parlamento Europeu, na sua resolução nº B5
710/2000: "O embrião humano corre o
risco de ser considerado uma coisa,
uma reserva biológica, um objeto para a
manipulação (...) Estamos convictos de
que uma única concepção corresponde
às exigências da democracia e dos direitos humanos: a que reconhece a plena
humanidade do embrião. Esta convicção estimula a pesquisa científica que
respeita a integridade do embrião humano. Rejeita toda a ação sobre o embrião que não tenha como objetivo o
bem-estar direto do embrião".
Falou o bom senso humano. A ciência
saberá ouvi-lo para não sacrificar uma
criança, ainda que do tamanho de uma
cabeça de alfinete, a fim de servir a um
adulto.
Dom Estevão Bettencourt é monge do mosteiro de São Bento e professor de teologia do Seminário São José, da arquidiocese do Rio de Janeiro.
Foi professor de teologia da PUC-RJ.
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