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São Paulo, domingo, 22 de junho de 2003

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CLÓVIS ROSSI

Macro x micro

SÃO PAULO - Se houver mesmo algum dia a fase dois do governo Luiz Inácio Lula da Silva, ela será feita mais de ações e programas microeconômicos do que de mudanças no esquema macroeconômico.
Ou mais concretamente: o superávit fiscal elevado veio para ficar, assim como uma política monetária superconservadora. Se a inflação continuar sob controle e em queda, os juros baixarão, é claro, mas menos de um dígito é só para o fim do mandato, como já antecipou o ministro Luiz Fernando Furlan.
Na questão fiscal, o papel da reforma da Previdência é sinalizar para credores e investidores que o superávit está sendo produzido pela redução de gastos e não pelo aumento de receitas.
Com isso, espera-se a melhoria da classificação do Brasil pelas agências de "rating" e, por extensão, o aumento dos investimentos.
A Lei de Falências seria outra perna para o aumento do investimento privado, na medida em que os credores teriam maiores garantias de receber de volta seu dinheiro e, por extensão, menos medo de emprestar.
Mesmo nas políticas industriais, em tese mais macro que micro, a idéia do ministro Antonio Palocci Filho não é, necessariamente, a de beneficiar cadeias inteiras, como já se fez no país (com resultados discutíveis), e sim selecionar os pedaços que podem ser competitivos internacionalmente.
O desenho, por si só, não é ruim. Para um país com higidez econômica e social, até seria uma boa aposta, com alguma paciência para esperar a maturação de projetos.
Em um país como o Brasil, cabe, no entanto, discutir se é possível apostar principalmente no micro ou se será, sim, necessário ser heterodoxo no macro tanto para reestruturar o Estado (o que custa caro, mas é necessário) quanto para que ele possa investir em infra-estrutura.
Diferentemente do que sugere o pobre debate econômico no Brasil, cobrar mudanças no modelo não significa defender o socialismo contra o capitalismo, mas a eficiência da política econômica no capitalismo.


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