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CLÓVIS ROSSI
Macro x micro
SÃO PAULO - Se houver mesmo algum dia a fase dois do governo Luiz
Inácio Lula da Silva, ela será feita
mais de ações e programas microeconômicos do que de mudanças no esquema macroeconômico.
Ou mais concretamente: o superávit fiscal elevado veio para ficar, assim como uma política monetária superconservadora. Se a inflação continuar sob controle e em queda, os juros baixarão, é claro, mas menos de
um dígito é só para o fim do mandato, como já antecipou o ministro Luiz
Fernando Furlan.
Na questão fiscal, o papel da reforma da Previdência é sinalizar para
credores e investidores que o superávit está sendo produzido pela redução de gastos e não pelo aumento de
receitas.
Com isso, espera-se a melhoria da
classificação do Brasil pelas agências
de "rating" e, por extensão, o aumento dos investimentos.
A Lei de Falências seria outra perna para o aumento do investimento
privado, na medida em que os credores teriam maiores garantias de receber de volta seu dinheiro e, por extensão, menos medo de emprestar.
Mesmo nas políticas industriais, em
tese mais macro que micro, a idéia do
ministro Antonio Palocci Filho não é,
necessariamente, a de beneficiar cadeias inteiras, como já se fez no país
(com resultados discutíveis), e sim selecionar os pedaços que podem ser
competitivos internacionalmente.
O desenho, por si só, não é ruim.
Para um país com higidez econômica
e social, até seria uma boa aposta,
com alguma paciência para esperar a
maturação de projetos.
Em um país como o Brasil, cabe, no
entanto, discutir se é possível apostar
principalmente no micro ou se será,
sim, necessário ser heterodoxo no
macro tanto para reestruturar o Estado (o que custa caro, mas é necessário) quanto para que ele possa investir em infra-estrutura.
Diferentemente do que sugere o pobre debate econômico no Brasil, cobrar mudanças no modelo não significa defender o socialismo contra o
capitalismo, mas a eficiência da política econômica no capitalismo.
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