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ANTÔNIO ERMÍRIO DE MORAES
O subsídio e a preguiça
Todas as tardes, lá pelas três e
meia, ele abre a sua garrafa de vinho, corta um pedaço de queijo, senta-se na varanda e aprecia suas terras e
seu gado. Janta às cinco e meia. Em seguida, liga a televisão e se prepara para
o "merecido descanso" depois de um
"puxado" dia de trabalho.
Às sextas-feiras, ele pára as onze,
pois ninguém é de ferro. Às quartas,
trabalha só de manhã, porque, à tarde,
vai à reunião do seu sindicato, onde
formula os pedidos de ajuda governamental para si e para os demais fazendeiros.
Seu nome é Christophe Hochede,
um dos milhares de agricultores franceses que têm de 50% a 85% da sua
renda garantida por subsídios da
União Européia -que somam US$
135 bilhões por ano! Para Christophe,
esse é o sistema ideal.
Os ministros da agricultura da Europa reuniram-se em Luxemburgo na
semana passada para tratar da promessa feita à OMC, em Doha, segundo
a qual a União Européia aliviaria os
subsídios agrícolas a partir de 2003.
Deslavadamente, decidiram aumentar ainda mais os subsídios, alegando
a entrada de mais dez países na União
Européia em 2004.
A França é a maior beneficiária dos
US$ 135 bilhões. O "European Global
Business" de 9 de junho de 2003 publicou uma provocante fotomontagem
com dezenas de vacas pastando no
gramado da Torre Eiffel com o seguinte título: "Na França, a vaca é sagrada".
Os produtores rurais franceses têm
uma força atemorizante. Não surgiu
um estadista com coragem suficiente
para cortar suas benesses.
O pior é que uma parte expressiva
dos subsídios é para os fazendeiros
não produzirem. Os franceses preferem abastecer o mercado interno com
café, açúcar e suco importados do
Brasil com enorme sobretaxa! Aliás,
os americanos fazem o mesmo. No
ano passado, gastaram US$ 200 bilhões para subsidiar a agricultura.
Os subsídios distorcem o comércio
internacional, dão prêmios para quem
não trabalha e castigam os que produzem com afinco e qualidade. O Brasil é
uma das vítimas dessa guerra injusta.
Nós é que pagamos pelo ócio dos milhões de Christophes do mundo desenvolvido.
Nos últimos dez anos, a produtividade da soja, do milho, do algodão,
das frutas e de vários outros produtos
brasileiros explodiu. Mas, a cada ganho de eficiência interna, os nossos
produtos foram gravados com o protecionismo externo.
O ministro Roberto Rodrigues, da
Agricultura, tem sido duro na crítica
-e com razão. Ele esteve na comitiva
do presidente Lula em Washington.
Esperamos que tenha dito ao presidente George W. Bush que o Brasil
tem de sair fora dessa guerra desleal
-a do desaforado protecionismo.
O avanço da nossa agricultura já é
suficiente para credenciar o Brasil a falar grosso em qualquer fórum, a começar pela OMC. Os europeus e os
americanos têm todo o direito de viver na "dolce vita", mas com o seu dinheiro, e não com os recursos arrancados dos países pobres, como acontece hoje.
Antônio Ermírio de Moraes escreve aos domingos nesta coluna.
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