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CARLOS HEITOR CONY
O jogo da direita
RIO DE JANEIRO - Apesar de admirar o Zé Genoino, pelo seu passado e
pelo seu presente, lamento que ele tenha embarcado numa canoa furada
ao declarar, como presidente do PT,
que as críticas ao atual governo "fazem o jogo da direita".
A pisada na bola começa pela satanização da direita, como se ela fosse a
responsável por tudo de ruim que
existe no mundo e na vida -pela fome, pela peste, pela guerra. E pela sacralização da esquerda, a vestal da
história, contra a qual somente os
ímpios, os criminosos, os torturadores e os ladrões se insurgem.
A coisa não é bem assim. Senti esse
tipo de censura na própria carne durante os anos mais duros do regime
militar, quando criticava a União Soviética, emblema e paraíso do socialismo. Deveria louvar permanentemente as forças do Pacto de Varsóvia
que zelavam pela ortodoxia de Moscou, fazendo seus tanques rolar pelas
ruas de Praga. Deveria louvar as clínicas psiquiátricas para os dissidentes e tudo o que também rolava nos
porões da KGB, em atividade igual a
dos porões onde milhares de brasileiros sofreram nas celas do DOI-Codi.
A melhor maneira de defender o
governo, sobretudo para a militância
tradicional do PT, é cobrar o programa partidário, o elenco de prioridades e de ações que botaram Lula na
presidência da República. Há petistas
acusados de serem radicais, mas cujo
erro é exatamente continuarem sendo petistas, com tudo de certo e de errado que há tanto no PT como em
qualquer outro partido.
Poupar o governo em nome da estabilidade e do clima de euforia pós-eleição de 2002 é continuar jogando
errado em termos de história, que caminha sem dar bola para o sovado
maniqueísmo de esquerda e direita.
Tal como todos nós, que usamos as
duas pernas para caminhar, sobretudo quando pretendemos ir para a
frente.
A comparação é primária, mas a civilização é uma casca, um verniz que
nunca escondeu o primata que somos todos.
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