São Paulo, terça-feira, 22 de junho de 2004

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CARLOS HEITOR CONY

O salário do logro

RIO DE JANEIRO - Quando Vargas criou o salário mínimo, sabia que estava criando um caso, mas comprou a briga. Anos depois, quando aumentou o mínimo em 100%, encarou uma briga com os coronéis que deitaram manifesto, hoje considerado o começo do fim de seu segundo mandato e de sua vida.
Com a indexação do salário mínimo, sobretudo para as despesas da Previdência Social, mexer no salário mínimo estendeu o problema ao aparelho administrativo do país, deixando de incomodar apenas os empresários da iniciativa privada, mas também todo o organismo governamental. Com isso, tornou-se um salário-referência, e não mais um salário propriamente dito.
Bem, o que está dito acima até os ossos de Dana de Teffé, estejam onde estiverem, sabem desde criancinha. Quando estavam na oposição, os congressistas da atual base governista sabiam disso, mas não aceitavam o argumento brandido pelos interessados, de que o mínimo quebraria uma Previdência já quebrada.
Em quatro campanhas eleitorais, tanto o presidente Lula como os petistas de todos os calibres proclamavam que a quebradeira da Previdência se devia à cumplicidade de sucessivos governos com os depositários infiéis (devedores), que recolhiam a contribuição de seus empregados e não as repassavam para o INSS.
O que mudou nessa história toda não foi o acerto dos devedores com o instituto, mas, sim, o governo, que deixou de ser a droga que sempre foi e passou a sua tradicional sede de justiça social e decência administrativa para o PT, sobretudo para seu histórico líder.
Proclamando a novidade de seus conceitos e feitos, o PT está repetindo comodamente os grandes erros que descobria na vida nacional, então dirigida pelos adversários da causa justa. Se realmente quisesse tentar o novo, o paraíso prometido, primeiro acabaria com a indexação, depois com a dívida da Previdência, cumprindo a lei que determina a penhora dos bens e a prisão dos depositários infiéis.


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