São Paulo, terça-feira, 22 de junho de 2004 |
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TENDÊNCIAS/DEBATES Uma nova Cruzada?
NILTON FREIXINHO
Eis por que todos os países da Europa Ocidental cristã formam então uma coligação contra os islâmicos do levante -invadem e procuram manter ali uma cabeça-de-ponte estratégica, visando seus propósitos. Hoje, persistem as motivações de ordem religiosa, que, no enfoque dos islâmicos, no entendimento do líder terrorista árabe Osama bin Laden, situam-se na área da cultura. Mas hoje há também razões de ordem econômica no confronto do Ocidente com o levante. É sabido que no Oriente Médio situa-se a mais rica área petrolífera do planeta. Isso cresce de importância quando se leva em conta que as jazidas de petróleo em território norte-americano estão praticamente exauridas. Chegamos ao ponto que este artigo pretende aflorar com clareza: os acontecimentos em curso no Iraque representam uma atitude unilateral dos EUA ou traduzem um movimento que coliga os países do Ocidente cristão contra o levante islâmico, cujos povos estão ansiosos pelo ressurgimento, no mundo, da cultura árabe islâmica, após haver hibernado por cerca de cinco séculos? Não é difícil comprovar a segunda hipótese da questão formulada. Sem mencionarmos a Inglaterra, co-participante da invasão do Iraque em 2003, hoje mantendo um contingente de cerca de 12 mil militares no país invadido, é instrutivo examinar a contribuição militar de outros países europeus na ocupação do Iraque, embora alguns deles tenham se manifestado contrários à invasão, em 2003. Finlândia: contingente de 42 militares. Suécia, 46. Noruega, 391 (inclui a área do Afeganistão). Dinamarca, 595 (inclui a área do Afeganistão). Alemanha, 1.833. Holanda, 1.124. Bélgica, 280. França, 536. Espanha, 1.418 (inclui a área do Afeganistão). Itália, 3.489 (inclui o Afeganistão). Grécia, 167. Estônia, 62. Letônia, 131. Lituânia, 107. Polônia, 2.418 (inclui o Afeganistão). República Tcheca, 109. Eslováquia, 189. Hungria 313. Romênia, 427. O exame dessa participação militar, embora em termos talvez simbólicos, dos países europeus do Ocidente cristão na ocupação do Iraque, invadido pelos EUA e pela Inglaterra em 2003, revela de forma eloqüente que toda a Europa cristã ocidental de hoje está militarmente vinculada à guerra ao islamismo, tal como aconteceu na época das Cruzadas. Deixo ao leitor a formulação de inferências que possam demonstrar estarmos, nos dias de hoje, em novo confronto generalizado entre o Ocidente cristão e o levante islâmico -principalmente considerando a decisão do governo socialista espanhol, alçado ao poder em eleições realizadas no momento em que ecoavam, no país, as dramáticas conseqüências do brutal ato de terrorismo islâmico do 13 de março. De imediato, com apoio popular, foi determinado o retorno à Espanha do contingente militar enviado ao Iraque pelo governo anterior, sabidamente ligado à política das nações ocidentais, no quadro conjuntural do levante. Seria plausível a hipótese de uma cisão no Ocidente? Vale especular. Nilton Freixinho, 85, historiador, é coronel reformado do Exército. Texto Anterior: TENDÊNCIAS/DEBATES José Márcio Camargo e Bruno Ferman: Cotas e desigualdade Próximo Texto: Painel do leitor Índice |
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