São Paulo, terça-feira, 22 de agosto de 2000


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CLÓVIS ROSSI

O exílio está de volta

SÃO PAULO - Deu em "O Estado de S. Paulo" de ontem: "O comerciante brasileiro Saleh Hage ganhou asilo político nos Estados Unidos, dia 4, dizendo-se vítima da violência em São Paulo".
Prossegue o texto: "Só este ano, ele testemunhou seis assaltos a vizinhos na zona leste e foi ameaçado pelos criminosos. Segundo o Serviço Nacional de Imigração americano, "ele parecia sincero ao revelar seu medo de continuar no Brasil'".
É inacreditável, mas verdadeiro: 17 anos depois da restauração da democracia, o país volta a ter pelo menos um asilado político. E o termo, no caso, não é exagerado: o Brasil vive um estado de guerra civil não declarada, e vítimas de guerras civis são sempre asilados políticos.
É razoável imaginar que muitos outros brasileiros, se pudessem, tomariam atitude idêntica à de Saleh Hage. Eu mesmo o faria, ainda que não tenha testemunhado assaltos recentemente. Mas é cada vez mais difícil suportar a roleta-russa diária que é viver em São Paulo, um fenômeno sobre o qual você não tem controle nenhum.
Se ainda houvesse parâmetros, vá lá. Se eu soubesse que ir ao bairro x ou y, ou andar na rua depois de tal hora etc. me torna mais suscetível de ser vítima da violência urbana, trataria de não fazer essas coisas, mesmo à custa de aceitar uma limitação no meu direito de ir e vir.
É como fumar. Você sabe que aumenta as chances de contrair câncer e, portanto, deve ser evitado.
Mas, no caso da violência, não há regras. A próxima bala, em qualquer esquina ou mesmo dentro de casa, pode ser a sua ou a de um parente muito próximo.
Espero que, ao tomar conhecimento do pedido de asilo de Saleh Hage, um dos responsáveis pela segurança pública no país, o general Alberto Cardoso, reformule a sua já grave afirmação de que o país está chegando, em matéria de violência, ao ponto de não-retorno.
Já chegou, general. E o país já cansou de diagnósticos. Cadê a ação?


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