São Paulo, terça-feira, 22 de agosto de 2000


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CARLOS HEITOR CONY

Custo e benefício

RIO DE JANEIRO - Semana passada, o governo concentrou quase metade do ministério numa cidade, não lembro se de Goiás ou Mato Grosso. Seria o início, pela enésima vez, da tal agenda positiva, também conhecida pelo codinome de ""Avança Brasil".
Trata-se de um conjunto empírico de medidas salvadoras que dorme nas gavetas do poder, mas é brandida toda vez em que o governo, encurralado pela inércia administrativa e pela avalanche da corrupção, pretende mostrar serviço, desviando o foco da indignação nacional.
É a terceira etapa da "Operação Abafa". A primeira foi o amaciamento da mídia, com o próprio presidente telefonando para colunistas e chamando editores para uma conversa. A segunda foi deslanchar a campanha contra os procuradores, que de repente passaram a ser torquemadas, invadindo a honra dos homens de bem.
Curiosamente, quando os procuradores levantam acusações contra Maluf, contra Pitta, contra vereadores, contra bandidos comuns e pobres, tudo bem, é o longo braço da lei que procura a improbidade e o crime.
Quando a investigação chega ao gabinete mais poderoso da República, aí exige-se respeito à honra alheia, que não pode ficar à mercê do Ministério Público. Afinal, se a corrupção do Lalau chegou a EJ, havia indícios mais do que bastantes para que caísse o sigilo telefônico e bancário do suspeito.
Foi assim que se apurou o esquema PC Farias, que terminou no impedimento de Collor. O Ministério Público, então, foi elogiadíssimo por ter insistido na apuração das ligações de PC com o ex-presidente -que, diga-se de passagem, nada fez para impedir a marcha do processo.
Mais uma vez, neste resto de mandato, o presidente da República pouco se importa com a malhação moral que lhe dá índices tão altos de rejeição popular. Mantendo-se no poder, ele acha que paga o custo pelo benefício.


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