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CARLOS HEITOR CONY
Custo e benefício
RIO DE JANEIRO - Semana passada, o governo concentrou quase metade
do ministério numa cidade, não lembro se de Goiás ou Mato Grosso. Seria
o início, pela enésima vez, da tal
agenda positiva, também conhecida
pelo codinome de ""Avança Brasil".
Trata-se de um conjunto empírico
de medidas salvadoras que dorme
nas gavetas do poder, mas é brandida toda vez em que o governo, encurralado pela inércia administrativa e
pela avalanche da corrupção, pretende mostrar serviço, desviando o foco
da indignação nacional.
É a terceira etapa da "Operação
Abafa". A primeira foi o amaciamento da mídia, com o próprio presidente
telefonando para colunistas e chamando editores para uma conversa.
A segunda foi deslanchar a campanha contra os procuradores, que de
repente passaram a ser torquemadas,
invadindo a honra dos homens de
bem.
Curiosamente, quando os procuradores levantam acusações contra
Maluf, contra Pitta, contra vereadores, contra bandidos comuns e pobres, tudo bem, é o longo braço da lei
que procura a improbidade e o crime.
Quando a investigação chega ao
gabinete mais poderoso da República, aí exige-se respeito à honra
alheia, que não pode ficar à mercê do
Ministério Público. Afinal, se a corrupção do Lalau chegou a EJ, havia
indícios mais do que bastantes para
que caísse o sigilo telefônico e bancário do suspeito.
Foi assim que se apurou o esquema
PC Farias, que terminou no impedimento de Collor. O Ministério Público, então, foi elogiadíssimo por ter insistido na apuração das ligações de
PC com o ex-presidente -que, diga-se de passagem, nada fez para impedir a marcha do processo.
Mais uma vez, neste resto de mandato, o presidente da República pouco se importa com a malhação moral
que lhe dá índices tão altos de rejeição popular. Mantendo-se no poder,
ele acha que paga o custo pelo benefício.
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