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São Paulo, sexta-feira, 22 de agosto de 2003

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ELIANE CANTANHÊDE

O estilo PT de governar

BRASÍLIA - O governo demitiu o diretor-executivo da Funasa por ser casado com uma deputada do PT que se absteve na votação da reforma da Previdência. Não dá para entender.
Ou bem o sujeito é incompetente e não poderia ter sido nomeado, ou bem foi nomeado porque é competente e não poderia ser demitido só por motivo político.
Em nota oficial, o Ministério da Saúde admite que demitiu Antônio Carlos de Andrade porque ele é marido de Maninha (DF), uma dos oito petistas que se abstiveram na reforma. Ou seja: não houve critério técnico na saída do diretor. Nem na entrada portanto. Se saiu por ser marido da deputada, supõe-se que entrou pelo mesmo motivo. Apesar de, como lembrou Maninha, ele ser funcionário concursado do ministério e secretário-geral do PT no DF.
Como agravante: ao assumir, o ministro Humberto Costa revogou decreto de FHC exigindo que os diretores da Funasa nos Estados fossem do órgão e concursados. Costa alegou que isso "engessava as nomeações", pois praticamente mantinha nos cargos os funcionários do governo anterior.
Ele queria, como fez Miguel Rosseto no Incra, escolher a dedo os novos diretores regionais. Pela lógica da nomeação do diretor agora afastado, não com critérios exatamente técnicos, mas, sim, políticos. Se a gente for pesquisar, pode acabar descobrindo que a Funasa -responsável por saneamento em áreas carentes e indígenas- está como o Incra: cheinha de braços operacionais do PT.
Com o episódio, fica-se sabendo: 1) As nomeações para áreas técnicas são políticas. 2) Votou com o PT, tem cargo; não votou, já era. 3) O pau está comendo entre as tendências do PT. A Articulação, de José Dirceu e José Genoino, está mais radical no poder do que os radicais que sempre combateu internamente no partido.
Que o PT queira expulsar ou punir os petistas infiéis ao governo com instrumentos partidários vá lá, mas usar cargos até do Ministério da Saúde? Andrade, o demitido, falou em fascismo. Difícil discordar.


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