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TENDÊNCIAS/DEBATES
Da fracassomania à sucessofobia
MOREIRA FRANCO
Números podem às vezes desencaminhar o raciocínio, mas não
mentem. A continuada queda da dívida
indexada ao dólar oferece a mais óbvia
evidência de que a defesa aguerrida da
estabilidade e o combate às tendências
inflacionárias são o mais positivo resultado do atual governo.
Em setembro de 2002, um dos momentos mais críticos da crise cambial,
com o mercado inquieto diante das previsões eleitorais, o Banco Central não teve alternativa senão satisfazer a demanda dos investidores por hedge (proteção) e prazos mais curtos. O total de títulos com indexação cambial ultrapassou os 40% da dívida -R$ 263 bilhões.
Pois bem, a ação firme do presidente
Lula e do ministro Palocci, não cedendo
aos "companheiros" nem aos aliados fisiologistas, permitiu uma dramática redução da dívida indexada para cerca de
30% em cinco meses. E a política de rolagem cada vez menor dos títulos vencidos vai também estendendo o prazo
médio da dívida indexada, que, entre
setembro de 2002 e maio deste ano, aumentou de 30,6 para 39,6 meses.
Cai a vulnerabilidade cambial do país;
e onde estão os "defensores" da soberania nacional e dos interesses dos países
excluídos? Eles, que deveriam aplaudir
de pé o aumento da capacidade brasileira de negociar com o mercado internacional a vinda de novos capitais, com juros menores e prazos maiores, preferem
torpedear os projetos encaminhados
pelo governo, que também somam nesse esforço libertador.
O economista Fábio Giambiagi fez, no
jornal "Valor", uma oportuna comparação entre os objetivos enunciados pelo governo Lula para o próximo ano e o
realmente ocorrido no ano 2000. Propõe-se para 2004 crescimento de 3,5%
(em 2000, um pouco acima de 4%), inflação próxima da meta, de 5,5% (em
2000, praticamente igual), queda da taxa Selic de 20% no início do ano para
16% no final (em 2000, caiu de 19% para
16%). Como vemos, a meta do governo
no curto prazo é retornar aos níveis econômicos alcançados no ano 2000. O que
é uma manifestação de sensatez.
É tempo de o presidente Lula e o dito núcleo duro do governo reafirmarem que continuam comprometidos com a estabilidade
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No ano 2000, o emprego com carteira
subiu 2,2%; o emprego total, 4,2%; e o
desemprego diminuiu significativamente. Mas, infelizmente, os próprios
abilolados da base governista, aqueles
que nunca sabem direito o que estão fazendo, continuam compromissados
com os equívocos de visão expressos
pelo PT ao longo daquele ano. A política
econômico-financeira adotada na época foi rotulada de "obsessão pela estabilidade e insensível ao social". Como ela
é a mesma de hoje, não deveremos nos
surpreender quando os abilolados disserem o mesmo do ministro Palocci.
Só o PL e o PPS cumpriram integralmente seus compromissos como participantes da base governista. Além dos 11
rebeldes do PT, a maioria da bancada
do PC do B e um bom número no PSB,
no PTB e no PMDB adesista recusaram-se a apoiar o projeto, mesmo depois do
recuo do Planalto em vários pontos da
reforma da Previdência. Antes que os
conflitos na base do governo se agravem
e prejudiquem a governabilidade do
país, é tempo de o presidente Lula e o dito núcleo duro do governo reafirmarem
que mudaram, que continuam firmemente comprometidos com a estabilidade e o desenvolvimento sustentado.
Quando alguém acusava JK de ter
mudado de opinião ou comportamento, ele respondia: "Não me cobrem coerência. Não tenho compromisso com o
erro". O PT e seus aliados antigamente
torciam para que tudo desse errado.
Agora parece torcerem para que nada
dê certo. Na oposição, tinham fracassomania; no governo, deixam-se sufocar
pela sucessofobia.
Wellington Moreira Franco, 58, sociólogo, deputado federal pelo PMDB-RJ, foi governador do Estado do Rio de Janeiro e prefeito de Niterói.
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