São Paulo, quarta-feira, 22 de agosto de 2007

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CLÓVIS ROSSI

O "tumor fétido" vai ao STF

SÃO PAULO - Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa, como diria Denise Abreu, a diretora da Anac que enganou a Justiça e, não obstante, continua diretora.
Uma coisa é o Supremo Tribunal Federal aceitar ou não a denúncia contra os 40 do mensalão. Do ponto de vista jurídico, é decisão irrefutável, seja qual for.
Outra coisa é a igualmente irrefutável culpa dos acusados sob o aspecto ético e moral. Culpados não apenas pela denúncia oferecida pela Procuradoria Geral da União, ainda que esta seja de uma contundência nunca antes vista neste país. "Organização criminosa" não é rótulo usual para um partido do governo.
Ainda assim, a Procuradoria acusa, mas não julga. Quem condenou os mensaleiros foi o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em três diferentes frases.
Primeiro, ao pedir perdão ao público. Se pediu perdão, é porque um crime foi cometido, a menos que Lula, além de messiânico, seja também masoquista.
Depois, ao dizer-se traído. Se foi traído, é porque seus amigos cometeram um trambique. Finalmente, ao dizer que o PT fez o que todo mundo faz (caixa dois).
Caixa dois é crime. O fato de que muita gente o pratique não lhe tira a característica de crime.
Como confessou ainda anteontem o governador da Bahia, Jaques Wagner, ex-palaciano: "A tese do mensalão, como foi apresentada, foi equivocada. Que houve, houve, mas não com essas características que tentaram sustentar. O que teve: tratos de ajuda e sustentação [entre partidos da base aliada e o PT] para as eleições de 2004". Se o nome é mensalão ou não, continua sendo crime -e confessado.
Por fim, como prefere outro ex-palaciano, Frei Betto, "a crise ética de 2005 [foi] tumor fétido de alianças nefastas".
Com ou sem denúncia, o fato é que tumores fedem.


crossi@uol.com.br

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