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São Paulo, segunda-feira, 22 de setembro de 2003

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LIMITES REAIS

A opção gradualista do Banco Central tem sido a tônica da política monetária brasileira. Com poucas exceções, os juros somente se movimentam com rapidez quando se trata de uma crise -e sempre no sentido de alta. Há vários argumentos, inclusive de natureza técnica, para justificar a opção gradualista. O mais comum deles alerta para os riscos que uma redução abrupta ou exagerada das taxas poderia trazer ao processo de retomada do crescimento. Se algo sai errado, a necessidade de novamente elevar as taxas cria consequências piores do que as dores da redução gradual e cautelosa.
É importante, no entanto, separar, na política de juros, o componente associado à administração da confiança daquele referente à dimensão estritamente econômica.
A crise de confiança, tal como se configurou na recente transição entre governos, parece hoje definitivamente superada. A administração Luiz Inácio Lula da Silva respeita contratos, faz a lição de casa encomendada pelo FMI e encaminha a mesma agenda de reformas que é defendida pelo sistema financeiro. Já não há, também, pressões cambiais nem inflacionárias importantes.
Esse quadro sugere que seria possível romper com a lógica gradualista, mas, ainda que fosse essa a opção do BC, haveria um vazio a ser preenchido. Trata-se da indefinição a respeito das políticas de desenvolvimento, das perspectivas de recuperação das reservas internacionais, dos estímulos à substituição de importações e de uma orientação mais inteligente do gasto público. Enquanto o governo se mostrar incapaz de orquestrar políticas estruturais ligadas à dimensão da oferta, todo aumento de demanda, real ou potencial, será visto com cautela, para dizer o menos.
Os limites reais ao crescimento são antecipados pelos especuladores quando não há garantias de que a queda de juros estará mais associada à retomada de investimentos produtivos do que ao aumento do consumo e das importações.
A redução gradualista dos juros limita o crescimento, mas a velocidade da retomada também tem como obstáculo as insuficiências da infra-estrutura produtiva e a incapacidade do Estado para enfrentá-las.



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