São Paulo, sexta-feira, 22 de novembro de 2002

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PERDA PROLONGADA

A virtual estagnação vivida pela economia brasileira desde meados de 2001 continua a cobrar seu preço sobre o mercado de trabalho. Este, segundo levantamento do IBGE divulgado ontem, prosseguiu em deterioração em outubro. A taxa de desemprego, descontadas as influências sazonais, chegou a 7,7% da população economicamente ativa (ou seja, do universo das pessoas que estão trabalhando ou procurando um trabalho) - o nível mais alto desde fevereiro de 2001.
A tendência de alta da taxa de desemprego não indica que esteja caindo o número de trabalhadores que têm uma ocupação. O que ocorre é que a expansão das ocupações vem se dando, persistentemente, em ritmo inferior ao da entrada de pessoas no mercado de trabalho. Assim, aumenta a proporção de trabalhadores "excedentes".
Mas a deterioração do mercado de trabalho não se restringe ao emprego. Sob a pressão combinada do aumento do desemprego e da elevação da inflação, o rendimento médio real dos trabalhadores que têm uma ocupação teve em setembro queda, sobre igual período do ano anterior, pelo 21º mês consecutivo.
O período inicial do Plano Real permitiu uma alta expressiva da renda dos trabalhadores. Mas desde o "pico" atingido em 1997, os anos seguidos de baixo dinamismo da economia já levaram a uma contração real do seu rendimento médio também significativa, da ordem de 12%.
Em suma, os ganhos de renda obtidos na fase áurea do início do Real já foram quase integralmente revertidos: hoje o rendimento médio real dos trabalhadores se situa apenas 4% acima do seu nível de 1994. Como não cabe esperar que a inflação recue com força tão cedo, nem que a economia tenha uma expansão robusta no ano que vem, deverá demorar para que os trabalhadores possam retomar o poder de compra que tinham há cinco anos.


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