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VINICIUS TORRES FREIRE
Lula e a primeira fase do vestibular
SÃO PAULO - Luiz Inácio Lula da Silva e seu governo virtual de transição
-que governa apenas expectativas- passaram na primeira fase do
vestibular para a administração do
país. O primeiro teste acabou ontem:
depois que a tropa do FMI deu cabo
de sua missão sem criar caso com as
contas do país e com o PT; depois das
conversas relativamente amistosas
entre petistas e batedores diplomáticos de George W. Bush. Apesar de
ainda estarem em nível crítico, a taxa
de câmbio e o índice do risco-país
apresentam suave melhoria.
Isto é, o governo virtual de Lula fez
bem o que estava a seu alcance: conter o pânico, sabotadores e especuladores mais atirados, além de construir pontes importantes em todas as
direções, da política à economia.
Uma dessas pontes chama-se Antônio Palocci, que se tornou uma figura
quase incontornável no ministério de
Lula da Silva, pois o queridinho de
empresários e mercados, um ativo
político que é preciso manter.
O PT foi hábil o bastante para criar
confusão entre as reduzidas e acurraladas hostes adversárias, deixando
em aberto assuntos como maioria no
Congresso, valor do salário mínimo,
cortes adicionais de gastos no governo, apoio ao aumento da taxa de juros etc. Na verdade, o PT enrolou em
relação a todos esses assuntos. Não se
comprometeu com nada. Apenas disseminou a idéia correta de que o ano
que vem será de vacas magras. Não
se queimou, reduziu algumas expectativas, sobreviveu à ansiedade do
imediato pós-eleição.
Em pouco menos de um ano, o PT
se travestiu em público, deixou o esquerdismo populista e admitiu algumas durezas da vida e da economia.
Em menos de um mês, depois da eleição, o partido acabou de trocar de
roupa à vista de todos sem causar escândalo maior. Há um ligeiro sabor
desagradável de truque nisso tudo,
de fraude política, dado que, no Carnaval deste ano, ainda se ouvia radicalismos rastaqueras de muita gente
graúda do PT. Mas quem preferiria
que o partido continuasse o mesmo?
E FHC não fez coisa parecida?
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