São Paulo, sexta-feira, 22 de novembro de 2002

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VINICIUS TORRES FREIRE

Lula e a primeira fase do vestibular

SÃO PAULO - Luiz Inácio Lula da Silva e seu governo virtual de transição -que governa apenas expectativas- passaram na primeira fase do vestibular para a administração do país. O primeiro teste acabou ontem: depois que a tropa do FMI deu cabo de sua missão sem criar caso com as contas do país e com o PT; depois das conversas relativamente amistosas entre petistas e batedores diplomáticos de George W. Bush. Apesar de ainda estarem em nível crítico, a taxa de câmbio e o índice do risco-país apresentam suave melhoria.
Isto é, o governo virtual de Lula fez bem o que estava a seu alcance: conter o pânico, sabotadores e especuladores mais atirados, além de construir pontes importantes em todas as direções, da política à economia.
Uma dessas pontes chama-se Antônio Palocci, que se tornou uma figura quase incontornável no ministério de Lula da Silva, pois o queridinho de empresários e mercados, um ativo político que é preciso manter.
O PT foi hábil o bastante para criar confusão entre as reduzidas e acurraladas hostes adversárias, deixando em aberto assuntos como maioria no Congresso, valor do salário mínimo, cortes adicionais de gastos no governo, apoio ao aumento da taxa de juros etc. Na verdade, o PT enrolou em relação a todos esses assuntos. Não se comprometeu com nada. Apenas disseminou a idéia correta de que o ano que vem será de vacas magras. Não se queimou, reduziu algumas expectativas, sobreviveu à ansiedade do imediato pós-eleição.
Em pouco menos de um ano, o PT se travestiu em público, deixou o esquerdismo populista e admitiu algumas durezas da vida e da economia. Em menos de um mês, depois da eleição, o partido acabou de trocar de roupa à vista de todos sem causar escândalo maior. Há um ligeiro sabor desagradável de truque nisso tudo, de fraude política, dado que, no Carnaval deste ano, ainda se ouvia radicalismos rastaqueras de muita gente graúda do PT. Mas quem preferiria que o partido continuasse o mesmo? E FHC não fez coisa parecida?


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