São Paulo, sexta-feira, 22 de novembro de 2002

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MARCELO BERABA

Capitalista ou pé-de-chinelo?

RIO DE JANEIRO - Os bandidos que aterrorizam os morros do Rio e que dominam boa parte do varejo do tráfico de drogas na cidade são quase sempre considerados fichinhas sem importância. Vivem do crime, mas não fazem fortuna. Prova disso são suas famílias, que vivem invariavelmente no limite da miséria, apesar da grana que corre.
Essa situação parece estar mudando, o que comprovaria, para usar o jargão economês, a inserção dos nossos Elias Maluco da vida num novo patamar dos negócios.
O próprio Elias pode ser um exemplo. Enquanto foi caçado durante meses pela polícia, acusado de ter assassinado o jornalista Tim Lopes, foi descrito sempre como um pé-rapado, um sanguinário desprovido de cérebro. Depois de preso, as investigações da polícia mostraram que de maluco não tinha nada, pois já estava montando um modesto patrimônio no interior de Minas.
O mesmo tino financeiro vem sendo comprovado em relação a outros traficantes, como Linho, líder do Terceiro Comando, que teria até uma transportadora. E Fernandinho Beira-Mar, que, pelas informações disponíveis, já está reconstruindo com imóveis um patrimônio várias vezes liquidado por prisões e achaques.
Isso tudo vem a propósito de reportagem recentemente publicada pelo jornal "La República", do Peru. Com base em investigações dos Estados Unidos e da Colômbia, o jornal informa que as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) compraram 10 mil fuzis AKM-47 -fabricados na Jordânia e contrabandeados pelo esquema montado pelo ex-assessor presidencial do Peru, Vladimiro Montesinos- com a venda de US$ 8 milhões de cocaína para traficantes brasileiros.
As armas teriam vindo do Oriente, o esquema passaria pelo Peru, o destino seria a guerrilha colombiana e o capital viria do Brasil. Tudo bem que nos globalizamos, mas parece muita areia para o nosso caminhão.


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