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MARCELO BERABA
Capitalista ou pé-de-chinelo?
RIO DE JANEIRO - Os bandidos que aterrorizam os morros do Rio e que
dominam boa parte do varejo do tráfico de drogas na cidade são quase
sempre considerados fichinhas sem
importância. Vivem do crime, mas
não fazem fortuna. Prova disso são
suas famílias, que vivem invariavelmente no limite da miséria, apesar
da grana que corre.
Essa situação parece estar mudando, o que comprovaria, para usar o
jargão economês, a inserção dos nossos Elias Maluco da vida num novo
patamar dos negócios.
O próprio Elias pode ser um exemplo. Enquanto foi caçado durante
meses pela polícia, acusado de ter assassinado o jornalista Tim Lopes, foi
descrito sempre como um pé-rapado,
um sanguinário desprovido de cérebro. Depois de preso, as investigações
da polícia mostraram que de maluco
não tinha nada, pois já estava montando um modesto patrimônio no interior de Minas.
O mesmo tino financeiro vem sendo comprovado em relação a outros
traficantes, como Linho, líder do Terceiro Comando, que teria até uma
transportadora. E Fernandinho Beira-Mar, que, pelas informações disponíveis, já está reconstruindo com
imóveis um patrimônio várias vezes
liquidado por prisões e achaques.
Isso tudo vem a propósito de reportagem recentemente publicada pelo
jornal "La República", do Peru. Com
base em investigações dos Estados
Unidos e da Colômbia, o jornal informa que as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) compraram 10 mil fuzis AKM-47 -fabricados na Jordânia e contrabandeados pelo esquema montado pelo ex-assessor presidencial do Peru, Vladimiro Montesinos- com a venda de
US$ 8 milhões de cocaína para traficantes brasileiros.
As armas teriam vindo do Oriente,
o esquema passaria pelo Peru, o destino seria a guerrilha colombiana e o
capital viria do Brasil. Tudo bem que
nos globalizamos, mas parece muita
areia para o nosso caminhão.
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