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"MORDIDA" TRIBUTÁRIA
O que parecia no início um
rolo compressor político que
iria aprovar em tempo recorde as reformas previdenciária e tributária
chegou ao final do ano sem fôlego
para cumprir os prazos previstos. Se,
no caso da Previdência, as coisas foram melhores, no da reforma tributária o governo viu-se obrigado a fazer, com menos cacife e sob pressão,
o que muitos consideravam o mais
apropriado desde o início: "fatiar" os
diversos itens da proposta. O recuo,
nessas condições, promete encenar
mais uma longa novela sobre mudança de tributos com desfecho, para dizer o mínimo, incerto.
Diante da evidência do desastre, o
governo partiu para o pragmatismo.
Ou seja, tomar decisões para aliviar
sua situação fiscal, o que significa,
apesar das declarações em contrário,
novo aumento da elevadíssima carga
tributária. Esta Folha já comentou a
medida provisória que elimina a cobrança cumulativa da Cofins, mostrando que, a despeito da direção
correta, a alíquota estabelecida é excessiva. Agora se ensaia uma nova
"mordida", desta vez no Imposto de
Renda da classe média.
A Receita pretende reduzir as deduções com gastos em educação e saúde. Para tentar tornar a investida
mais palatável, fala-se em "beneficiar
o andar de baixo". O invólucro social
não consegue, no entanto, esconder
o conteúdo, que é mais arrecadação.
É certo que não foi o PT que criou a
atual situação de endividamento do
poder público. Isso não justifica, porém, a permanência do padrão de legislar por medida provisória e onerar
a classe média -chamada pelo secretário da Receita de "andar de cima". Para manter a metáfora (na realidade celebrizada pelo colunista Elio
Gaspari), poder-se-ia indagar qual
seria a contribuição da "cobertura"
-e também a do próprio Estado, cuja ineficiência administrativa persiste. Mais adequado, no entanto, é insistir naquilo que até aqui nenhum
governo fez: uma reforma sistemática e simplificadora, que incentivasse
a produção e as exportações, estimulando o crescimento com maior inclusão e distribuição de renda.
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