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São Paulo, sábado, 22 de novembro de 2003

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UM PASSO NA ALCA

Ao contrário dos que vaticinavam o fracasso ou o isolamento do Brasil nas negociações para a Área de Livre Comércio das Américas, atribuindo o iminente desastre a uma suposta intransigência da diplomacia brasileira, o que se viu em Miami foi o representante norte-americano Robert Zoellick ao lado do brasileiro Celso Amorim anunciando um entendimento para a chamada Alca "light". Em resumo, o passo dado em Miami, embora longe de conclusivo, foi resultado de concessões de ambas as partes, com base numa visão mais flexível da formação do bloco comercial -como pretendia o Brasil.
Contribuiu obviamente para o pré-entendimento o fato de que tanto os EUA quanto o Brasil não estavam dispostos a correr o risco de ver se repetir em Miami o desgaste que foi o colapso do último encontro da Organização Mundial do Comércio (OMC) ocorrido em Cancún, no México. Prevaleceram, então, o bom senso e a boa diplomacia. Reconheceu-se o que parecia claro desde o início: dado o grau de heterogeneidade do grupo de países, entre os quais encontram-se a maior potência do planeta, economias intermediárias e outras muito pobres, dificilmente o entendimento nasceria de uma solução muito homogênea.
Obviamente que os representantes dos EUA, como devem fazer os de todos os países, partiram com o intuito de impor seus interesses. Provavelmente contavam com a permanência da conjuntura dos anos 90, marcada pela liberalização na América Latina, com forte adesão de muitos governos aos cânones ditados por Washington. O próprio Zoellick reconheceu a mudança dos ventos -que também ocorrem no plano interno norte-americano.
Delinear um acordo mínimo e dar tempo ao tempo para aprofundar as negociações segundo os diversos interesses foi a maneira de garantir a continuidade da Alca, dando-lhe contornos mais razoáveis. Duras negociações ainda estão por vir, e espera-se que a diplomacia brasileira saiba, como é seu dever, obter da Alca, de forma realista, os melhores benefícios e as menores desvantagens.


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