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UM PASSO NA ALCA
Ao contrário dos que vaticinavam o fracasso ou o isolamento do Brasil nas negociações para a Área de Livre Comércio das Américas, atribuindo o iminente desastre
a uma suposta intransigência da diplomacia brasileira, o que se viu em
Miami foi o representante norte-americano Robert Zoellick ao lado
do brasileiro Celso Amorim anunciando um entendimento para a chamada Alca "light". Em resumo, o
passo dado em Miami, embora longe de conclusivo, foi resultado de
concessões de ambas as partes, com
base numa visão mais flexível da formação do bloco comercial -como
pretendia o Brasil.
Contribuiu obviamente para o pré-entendimento o fato de que tanto os
EUA quanto o Brasil não estavam
dispostos a correr o risco de ver se repetir em Miami o desgaste que foi o
colapso do último encontro da Organização Mundial do Comércio
(OMC) ocorrido em Cancún, no México. Prevaleceram, então, o bom
senso e a boa diplomacia. Reconheceu-se o que parecia claro desde o
início: dado o grau de heterogeneidade do grupo de países, entre os
quais encontram-se a maior potência do planeta, economias intermediárias e outras muito pobres, dificilmente o entendimento nasceria de
uma solução muito homogênea.
Obviamente que os representantes
dos EUA, como devem fazer os de todos os países, partiram com o intuito
de impor seus interesses. Provavelmente contavam com a permanência
da conjuntura dos anos 90, marcada
pela liberalização na América Latina,
com forte adesão de muitos governos aos cânones ditados por Washington. O próprio Zoellick reconheceu a mudança dos ventos -que
também ocorrem no plano interno
norte-americano.
Delinear um acordo mínimo e dar
tempo ao tempo para aprofundar as
negociações segundo os diversos interesses foi a maneira de garantir a
continuidade da Alca, dando-lhe
contornos mais razoáveis. Duras negociações ainda estão por vir, e espera-se que a diplomacia brasileira saiba, como é seu dever, obter da Alca,
de forma realista, os melhores benefícios e as menores desvantagens.
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