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CLÓVIS ROSSI
O mano a mano
MIAMI - Foi um eloquente ato falho: o jornal "The New York Times", no
seu sumário de notícias de ontem, diz
que "os Estados Unidos e o Brasil encerraram antecipadamente as conversações destinadas a criar um acordo comercial de 34 nações depois de
concluírem que havia pouco a mais a
discutir".
Dá a impressão de que os 32 outros
sócios do Brasil e dos EUA na Alca
não apitam nada.
Não foi exemplo isolado na mídia
do mundo rico no dia de ontem. O
canadense "Globe and Mail": "A mexida na direção de um mínimo denominador comum (...), orquestrada
por Washington e Brasília, reflete
crescentes desacordos entre os dois titãs econômicos do hemisfério ocidental sobre quão longe deveriam ir as
negociações para desmantelar barreiras comerciais".
De novo, é Brasil e EUA, como se
nem o Canadá fosse um titã.
O fato é que a Alca não passa de
uma negociação Estados Unidos/
Brasil (ou, no máximo, Mercosul).
Negociar sociedade com uma potência como os Estados Unidos é uma
baita complicação.
Ainda que se deixe de lado a avaliação de que um acordo comercial
entre países tão desnivelados economicamente como o Brasil e os Estados Unidos é sempre desfavorável aos
mais pobre, há outras perspectivas
céticas a levar em conta.
Exemplo: "O Brasil, de longe a
maior economia da América do Sul,
tem pouco a ganhar com um acordo
regional, a menos que os EUA se disponham a reduzir seus grandes subsídios agrícolas e a limitar o uso de
regras antidumping voltadas a cortar
excessos de importação -duas questões quentíssimas num ano eleitoral,
como será 2004 nos EUA" (texto também recente de "The Wall Street
Journal", um jornal fundamentalista
em matéria de livre comércio).
É bom pensar logo: não dá mais para assobiar e olhar para o lado, como
se a Alca fosse desaparecer se a gente
não prestasse atenção a ela. Está na
primeira curva da esquina.
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