São Paulo, domingo, 22 de dezembro de 2002

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ELIANE CANTANHÊDE

Quem manda no boteco

BRASÍLIA - Quanto mais perto da posse, mais o "Lulinha paz e amor" vai botando as garras de fora. O que não é de todo mau. Ao contrário, pode ser muito bom.
Lula surpreendeu os petistas, para o mal, e os não-petistas, para o bem, ao colocar um banqueiro, um grande empresário e um ruralista, todos com coração tucano, para comandar a economia junto com Palocci, do PT.
Depois disso, encerrou a cota do pragmatismo e fechou a semana e o grosso do ministério cercado por petistas de boa cepa na área social: Jacques Wagner (Trabalho), Cristovam Buarque (Educação) e Humberto Costa (Saúde). Repare que nenhum deles saiu de São Paulo, onde o PT é especialmente forte nas três áreas. Foi para evitar guerra de tendências.
Também às vésperas da posse, Lula repetiu com o MME (Minas e Energia) o que havia feito na escolha de Márcio Thomaz Bastos para a Justiça: impôs exatamente o que queria. Thomaz Bastos dizia que não, não e não. Mas cedeu, já foi anunciado e está feliz da vida. Explicação de um velho conhecido do presidente eleito: "Quem resiste ao Lula?".
Agora, essa do PMDB. O futuro chefe da Casa Civil, José Dirceu, foi lá, acertou com Michel Temer que o MME iria para o PMDB e se esqueceu daquele detalhe: combinar com o "adversário" Lula. Que simplesmente não quis. Com essas ricas estatais do setor, como é que o PT vai ceder o ministério para o PMDB? Deu Dilma Roussef, escolha pessoal de Lula.
É assim que, enquanto beija criança, alisa cabeça de velhinho, experimenta sapato novo e desfila com guarda-chuva providenciado por Marisa, o Lulinha também desautoriza José Dirceu, joga duro contra o PMDB, desconsidera as negativas de Thomaz Bastos e impõe Dilma Roussef -que, aliás, confirma uma alta cota gaúcha no ministério.
Como a gente sempre diz e Lula agora repete, "ganhar eleição é mais fácil do que governar". É por isso que o "paz e amor" vai mostrando aos poucos quem manda no boteco.


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