São Paulo, domingo, 22 de dezembro de 2002

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ANTÔNIO ERMÍRIO DE MORAES

Um exemplo para quem acredita no Brasil

Havia muito tempo que não conversava com o Matias, velho amigo, produtor rural no interior de São Paulo. Liguei para ele para saber a razão do "ensurdecedor silêncio". Com humor e perspicácia ele falou:
"Foi pura falta de tempo. Chegou a vez da agricultura. Estou ajudando o Brasil a produzir 106 milhões de toneladas de grãos para a próxima safra. Foi só isso...".
Parabéns, emendei logo: "Gosto de quem trabalha com afinco...".
Ele não me deixou continuar e, com uma gostosa gargalhada e no mesmo tom satírico, aduziu: "Na balança comercial, o agronegócio gerou um superávit de US$ 21 bilhões em 2002. Isso foi o que permitiu ao Brasil fechar o ano com um saldo de US$ 12 bilhões, porque... vocês, do setor industrial..., caro Antônio, geraram um déficit de US$ 9 bilhões...".
Gozação à parte -afinal, quem pergunta o que quer ouve o que não quer-, o Matias tem razão. O Brasil está dando um show no agronegócio. O ministro Pratini de Moraes anunciou que a próxima safra será 10% maior do que a anterior -que já havia batido o recorde de 97 milhões de toneladas de grãos.
A soja é um show à parte. O crescimento da produção na próxima safra será de 14%. É disso que o Matias se orgulha, e com justo motivo.
Os produtores brasileiros têm mostrado ao mundo que dominam as mais avançadas tecnologias na genética de sementes, no plantio e na colheita daquela leguminosa. Há 25 anos, o Brasil produzia cerca de 1.200 quilos de soja por hectare. Hoje, produz mais do que o dobro disso. Em São Paulo, a média é de 2.600 quilos por hectare; no Paraná, 3.000 quilos e em Mato Grosso, 3.100 quilos!
Isso reflete a criatividade dos pesquisadores e a garra dos produtores brasileiros. Em cinco anos (1997-2001), praticamente dobramos a produção de soja, passando de 26 milhões de toneladas para 47 milhões de toneladas.
Em 2002, as exportações brasileiras aumentaram a despeito da crise de confiança dos países do Primeiro Mundo, das quedas nas Bolsas, da retração de investimentos e das ameaças de guerras. Além disso, tivemos contra nós o vergonhoso protecionismo agrícola do Japão, dos Estados Unidos e da União Européia. Ainda assim o Brasil vendeu mais lá fora. Temos tudo para continuar nesse ritmo, agora sob a batuta de outro competente ministro da Agricultura, o produtor e engenheiro agrônomo Roberto Rodrigues. Está chegando a hora de enfrentarmos a questão dos transgênicos que competem com grande vantagem, podendo quebrar o ritmo do dinamismo brasileiro.
Eu, que pensava simplesmente em cumprimentar o Matias pela chegada do Natal, quero estender a minha alegria a todos os produtores agrícolas do Brasil. Eles enfrentam sem medo o risco da agricultura, a precariedade do transporte, da armazenagem e dos portos, assim como as incertezas e o protecionismo do comércio internacional. É uma gente que reúne fé, competência e patriotismo.
É com esse tripé que se pode pensar em garantir um belo futuro para as próximas gerações. Um bom Natal a todos.


Antônio Ermírio de Moraes escreve aos domingos nesta coluna.


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