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ARQUIVO PARCIAL
Merece aplausos a idéia do
governo de criar o "arquivo da
intolerância", uma espécie de banco
de dados com documentos e depoimentos que relatem mortes, desaparecimentos e torturas ocorridos no
país e que possam ser acessados pela
população. Como escreveu Miguel
de Cervantes (1547-1616), "a história
é êmula do tempo, depósito de
ações, testemunha do passado e aviso do presente, advertência do porvir". Conhecer o passado é pelo menos fundamental para que não voltemos a cometer os mesmos erros.
Feitos os merecidos elogios, resta
esperar que o "arquivo da intolerância" não seja apenas uma manobra
diversionista para desviar as atenções
para o que realmente importa: localizar os arquivos secretos que ainda
existam em poder de órgãos de inteligência e sepultar de vez a proposta
acintosa do governo de consagrar
em lei a figura do sigilo eterno.
Com efeito, a medida provisória nš
228, baixada pelo Executivo no último dia 9, traz um dispositivo que
permite a uma comissão composta
exclusivamente por membros do governo manter documentos fora das
vistas do público por toda a eternidade. A proposta é tão afrontosamente
contrária às instituições democráticas que só resta ao Congresso Nacional a alternativa de rejeitá-la.
Segredos de Estado podem ser necessários, mas nada justifica o sigilo
indefinido. Ao contrário, ele pode
dar a autoridades a sensação de que
elas não precisam prestar contas a
ninguém, nem mesmo à história.
Consta que o governo teme a divulgação de material pouco enaltecedor
relativo à Guerra do Paraguai (1864-70) e a negociações territoriais. Sobretudo o lobby do Itamaraty teria
convencido o presidente Luiz Inácio
Lula da Silva a acolher o sigilo eterno.
A verdade, contudo, precisa prevalecer. A honra e a memória de indivíduos deve ser preservada na medida
do possível, mas não contra o direito
do país de conhecer o seu passado
-seja ele conveniente ou não para os
governantes da época.
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