São Paulo, quarta-feira, 22 de dezembro de 2004

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MISSÃO NO HAITI

Já é tardia a posição manifestada pelo ministro das Relações Exteriores do Brasil, Celso Amorim, em relação à presença de tropas brasileiras no Haiti. Segundo o chanceler, a missão brasileira naquele país será revista se for constatado que as expectativas tanto dos haitianos quanto de outros países é somente de "repressão" e controle da violência. Trata-se de um sinal -ao menos a título de pressão- de que o governo cogita a retirada das tropas caso a comunidade internacional não se envolva efetivamente no projeto de viabilizar a constituição de um Estado de Direito na República caribenha.
De fato, embora os soldados brasileiros que lá atuam sob a égide da ONU tenham como principal função manter um mínimo de ordem em meio ao caos reinante, não faz sentido que permaneçam no país se não for formulado um plano concreto que possa mudar o quadro atual.
O cenário haitiano demanda mais do que mera ação policial. Além da extrema instabilidade política, a população do Haiti é vítima da grave e perene crise econômica que condena a maioria dos cidadãos à penúria. A capital do país, Porto Príncipe, exibe as marcas da miséria e dos conflitos armados que resultaram na queda do presidente Jean-Bertrand Aristide. Sua paisagem é dominada por favelas, não há infra-estrutura urbana e a violência prospera.
Cabe ao Brasil e à comunidade internacional empreenderem uma busca por soluções duradouras. O governo brasileiro age acertadamente ao pressionar os países ricos, particularmente os EUA e a França, que intervieram diretamente na derrubada de Aristide, a elaborar e financiar um plano de recuperação econômica para o Haiti que ofereça perspectivas concretas de melhoria da situação.
Do contrário, o país continuará sendo um foco de instabilidade e a participação brasileira estará fadada a tornar-se apenas uma missão de emergência com pífios resultados.


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