São Paulo, sexta-feira, 23 de janeiro de 2004

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MARCELO BERABA

Ameaça persistente

RIO DE JANEIRO - Tem razão o ministro Márcio Thomaz Bastos. O ministro José Dirceu tem todo o direito de duvidar da competência e da boa-fé do Ministério Público e da imprensa e de criticá-los. O problema é quando generaliza. E foi o que fez na sexta passada, durante o ato de desagravo ao deputado Greenhalgh.
Sua frase: "Há uma violação persistente e permanente de direitos constitucionais por setores do Ministério Público e da imprensa brasileira". Persistente e permanente. Não se trata, portanto, apenas do caso de Santo André, que tanto incomoda o PT.
O desagrado dos petistas com "setores" do MP e da imprensa não é novidade. O relacionamento é pautado por atritos desde a posse de Lula. Não se pode dizer que era esperado, mas é compreensível.
Uma coisa é um político (ou partido) reconhecer a importância destas instituições, que têm papéis distintos, mas que estão igualmente comprometidas com a transparência dos negócios públicos, quando se está na oposição. Outra é sentir o peso das cobranças quando se é governo.
Poucos políticos suportam o trabalho investigativo da imprensa. E olha que, ao contrário do que imagina o ministro, infelizmente não é um trabalho persistente nem permanente. Deveria ser, mas não há recursos nem pessoal para isso. O mesmo pode-se dizer do Ministério Público.
E, por não suportarem as cobranças, volta e meia "setores" do Congresso ameaçam aprovar uma lei de imprensa coercitiva e inibidora. Acham que assim conseguirão domesticar os meios de comunicação. O MP sofre as mesmas ameaças com a Lei da Mordaça. A novidade agora é que, além de tentar silenciar os promotores, tenta-se impedir que façam investigações. Mordaça e algema.
As declarações do ministro tiveram o mérito de colocar mais uma vez em pauta a discussão sobre o papel da imprensa e do Ministério Público em um regime democrático e a capacidade do governo do PT de conviver com essas instituições.


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