São Paulo, Terça-feira, 23 de Fevereiro de 1999
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DÉCADAS PERDIDAS

Os anos 80 ganharam o epíteto de década perdida, mas a verdade é que a economia brasileira parece não ter sido ainda capaz de criar mecanismos para caminhar com os próprios pés, de construir uma sociedade que possa prosperar livre da inflação.
Os dados mais recentes sobre a evolução do PIB tornam essa constatação ainda mais amarga, pois, afinal de contas, o primeiro mandato do presidente FHC patinou numa taxa média de crescimento econômico insatisfatória -cerca de 2,5%-, apesar do surto de consumo que beneficiou nos primeiros anos do Real as camadas de renda mais baixa.
O crescimento no ano passado ficou em apenas 0,15%, segundo o IBGE, o pior desempenho desde a crise de 1992, quando o país encolheu 0,54%, na sequência de outro grande esquema supostamente definitivo contra a inflação, o Plano Collor.
A década de 90 chega ao seu final sem que o país tenha conseguido ainda amadurecer e, comparada à de 80, mesmo do ponto de vista político, as armadilhas parecem guardar certa semelhança. Não é, no entanto, inevitável que o país prossiga girando eternamente em suas ilusões.
Se é verdade que o país não se desenvolve de maneira sustentada, que parece viver fases alternadas de euforia e de depressão, parece também ter se formado nos últimos anos um consenso mínimo em torno da necessidade de abandonar as soluções mágicas e os arroubos populistas.
De pouco serviria, num momento de crise e de incertezas, fazer tábula rasa do aprendizado que, bem ou mal, foi acumulado com a experiência do Plano Real. Se o horizonte imediato é pouco animador, tanto para o investidor estrangeiro como para o cidadão brasileiro, é preciso que não se percam de vista os parâmetros que vinham se estabelecendo a muito custo, para o planejamento de médio e longo prazos. A despeito do sentimento hoje predominante de que as décadas passam mais ou menos perdidas, excetuados breves interregnos de bonança.


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