São Paulo, domingo, 23 de março de 2008

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ANTÔNIO ERMÍRIO DE MORAES

O lamentável tabagismo!

JÁ DEDIQUEI vários artigos nesta coluna sobre os males do tabagismo. Não tenho nenhuma implicância contra os fumantes.
Expresso a preocupação de quem atua na área hospitalar há mais de 40 anos e acompanha o sofrimento dos que adquirem doenças do fumo e as despesas crescentes para o seu tratamento.
O tabagismo está caindo na maior parte dos países, com exceção da Ásia, onde a proporção de fumantes ultrapassa 40% da população. Na Alemanha, são 34%; na Inglaterra, 27%; nos Estados Unidos, 19%.
Nos últimos 15 anos, a proporção de brasileiros que fumam caiu para menos da metade em várias capitais do país. Nas capitais, são apenas 17%.
É um fato auspicioso. Mas os estragos causados pelo cigarro continuam grandes. Mais de 200 mil pessoas morrem todos os anos por causa de doenças do fumo. É uma perda irreparável que, na maioria dos casos, é precedida por um sofrimento profundo dos que contraem cânceres de garganta, boca, pulmão e bexiga.
Além disso, há as perdas de recursos para o sistema de saúde, que poderiam ser direcionados a outros objetivos. Um estudo realizado por Márcia Pinto, pesquisadora do Instituto Oswaldo Cruz, estima que o SUS gasta cerca de R$ 338 milhões anualmente para tratar 32 moléstias que vêm do hábito de fumar ("Fumantes custam R$ 338 milhões ao SUS", Estado, 17/3/08).
É uma soma gigantesca e, pior, está subestimada, como diz a própria autora do estudo. O seu trabalho analisou apenas os custos de internação e quimioterapia. Mas o tratamento de doenças cardíacas e respiratórias segue um curso longo, que envolve várias intervenções e uma grande quantidade de medicamentos. Se somarmos tudo o que é gasto, a cifra será muito maior do que essa. Lamentável.
Muitos usam o surrado argumento de que a indústria de cigarros gera muitos empregos e recolhe impostos gigantescos aos cofres públicos. Até isso foi questionado pela pesquisadora. Ela mostrou que o preço dos cigarros caiu 20% nos últimos 15 anos devido a uma redução dos impostos. Numa época em que todos os impostos subiram e a carga tributária explodiu, o cigarro foi contemplado com uma redução.
Dizem que o imposto caiu para combater o contrabando de cigarros. Os números, entretanto, mostram que o contrabando se manteve estável, e as despesas do SUS aumentaram. Só no Brasil. Lamentável.


antonio.ermirio@antonioermirio.com.br

ANTÔNIO ERMÍRIO DE MORAES
escreve aos domingos nesta coluna.


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