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BLAIR NA BERLINDA
Numa decisão que surpreendeu aliados e adversários, o
primeiro-ministro britânico, Tony
Blair, anunciou que levará a futura
Constituição européia a plebiscito no
Reino Unido. A medida, que a imprensa dos dois lados do canal da
Mancha já classificou como a "mais
espetacular reviravolta de Blair" e
"arriscada aposta política", é temerária. O premiê tem muito a perder
com uma derrota da proposta de
Constituição nas urnas britânicas e
pouco a ganhar na hipótese inversa.
Blair e a esmagadora maioria do
Partido Trabalhista, que são ardorosos defensores da participação do
Reino Unido na União Européia,
sempre se opuseram a levar questões
européias a referendo. Sabem que a
população britânica é possivelmente
a mais refratária à idéia da confederação. Pesquisa divulgada nesta semana mostrou que 53% dos britânicos
são contrários à Constituição européia e só 16% são favoráveis. E uma
eventual rejeição da Carta pelo Reino
Unido, pelo menos em teoria, impediria sua adoção pelos demais 24 países da União Européia. É que, para
vigorar, a Constituição precisa ser ratificada por todos os membros.
O premiê britânico vem recebendo,
portanto, pesadas críticas por ter
"europeizado" uma questão doméstica. Especula-se que tenha optado
pelo plebiscito, entre outras razões,
por pressão do magnata da mídia
Rupert Murdoch, ferrenho adversário do Reino Unido na União Européia. Vários órgãos da imprensa afirmam que Murdoch teria ameaçado
não apoiar Blair em sua tentativa de
reeleger-se a menos que fosse anunciado o referendo.
Outras razões citadas para a reviravolta do premiê são a tentativa de
afastar o Iraque do centro do debate e
o receio de que a própria eleição, que
deverá ocorrer em maio de 2005, acabasse se tornando um plebiscito em
torno da Constituição européia.
Pelas primeiras reações, contudo, a
manobra não teve os efeitos desejados, pois, até aqui, Blair só conseguiu despertar a ira dos aliados e a
galhofa dos adversários.
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