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São Paulo, sexta-feira, 23 de maio de 2003

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MARTA SALOMON

Lições de um avarento feliz

BRASÍLIA - É uma questão de dias. O governo Luiz Inácio Lula da Silva vai relaxar um pouco o aperto nas contas públicas, e os ministérios serão autorizados a gastar cerca de R$ 1,5 bilhão a mais neste ano. Provavelmente com direito a festa.
O gesto não se deve à generosidade súbita da equipe econômica nem à quebra do compromisso de economizar o equivalente a 4,25% do PIB para pagar juros em 2003. É só o que a lei manda fazer quando a União arrecada mais impostos.
Na prática -e é o que nos interessa aqui-, o ritmo de pagamentos feitos com dinheiro público é muito mais lento do que impõe o enorme corte de R$ 14 bilhões decretado em fevereiro. O aperto vai além do necessário.
Em algumas áreas, a situação beira a calamidade. É o caso das obras em rodovias e saneamento básico, que terão prioridade para gastar mais, adianta o ministro Guido Mantega (Planejamento).
Até o Fundo de Combate e Erradicação da Pobreza -aquele criado há pouco mais de dois anos para garantir "níveis dignos de subsistência" aos brasileiros- tem o dinheiro liberado a conta-gotas. Nota-se isso numa consulta ao Siafi, o sistema de acompanhamento dos gastos federais.
O resultado são comunidades isoladas sem acesso à energia elétrica, escolas sem sistema de tratamento de água e esgoto, cidades pequenas sem saneamento básico e menos terra para a reforma agrária, entre outros projetos paralisados.
O Fundo da Pobreza, administrado pelo ministro José Graziano (Combate à Fome), não só gasta pouco como ajuda o governo a arrecadar mais.
Até a sexta passada, haviam sido doados e repassados ao Tesouro quase R$ 800 mil, a maior parte vinda de estrangeiros. Na mesma data, mais de 80% dos projetos financiados pelo fundo continuavam no papel.
O pão-durismo pode até fazer a felicidade do avarento. Mas, assim como os juros altos, tem um custo. E alguém tem de pagar a conta.


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