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MARTA SALOMON
Lições de um avarento feliz
BRASÍLIA - É uma questão de dias. O governo Luiz Inácio Lula da Silva vai relaxar um pouco o aperto nas contas
públicas, e os ministérios serão autorizados a gastar cerca de R$ 1,5 bilhão a mais neste ano. Provavelmente com direito a festa.
O gesto não se deve à generosidade
súbita da equipe econômica nem à
quebra do compromisso de economizar o equivalente a 4,25% do PIB para pagar juros em 2003. É só o que a
lei manda fazer quando a União arrecada mais impostos.
Na prática -e é o que nos interessa
aqui-, o ritmo de pagamentos feitos
com dinheiro público é muito mais
lento do que impõe o enorme corte de
R$ 14 bilhões decretado em fevereiro.
O aperto vai além do necessário.
Em algumas áreas, a situação beira
a calamidade. É o caso das obras em
rodovias e saneamento básico, que
terão prioridade para gastar mais,
adianta o ministro Guido Mantega
(Planejamento).
Até o Fundo de Combate e Erradicação da Pobreza -aquele criado há
pouco mais de dois anos para garantir "níveis dignos de subsistência" aos
brasileiros- tem o dinheiro liberado
a conta-gotas. Nota-se isso numa
consulta ao Siafi, o sistema de acompanhamento dos gastos federais.
O resultado são comunidades isoladas sem acesso à energia elétrica, escolas sem sistema de tratamento de
água e esgoto, cidades pequenas sem
saneamento básico e menos terra para a reforma agrária, entre outros
projetos paralisados.
O Fundo da Pobreza, administrado
pelo ministro José Graziano (Combate à Fome), não só gasta pouco como
ajuda o governo a arrecadar mais.
Até a sexta passada, haviam sido
doados e repassados ao Tesouro quase R$ 800 mil, a maior parte vinda de
estrangeiros. Na mesma data, mais
de 80% dos projetos financiados pelo
fundo continuavam no papel.
O pão-durismo pode até fazer a felicidade do avarento. Mas, assim como
os juros altos, tem um custo. E alguém tem de pagar a conta.
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