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CLÓVIS ROSSI
Como medir competência
SÃO PAULO - Acusado de incompetência pelo vice-presidente José Alencar, Henrique Meirelles, presidente
do Banco Central, defende-se dizendo que será julgado pelo resultado do
combate à inflação.
É apenas a metade da verdade.
Qualquer Banco Central que se preze
há de querer ser julgado não apenas
pela eficiência no combate à inflação
mas também pela capacidade de evitar a recessão.
Aliás, o BC-modelo para metade ou
mais do planeta, o Fed (norte-americano) tem como mandato expresso
não apenas manter a estabilidade de
preços mas preservar ou estimular a
atividade econômica.
É curioso que a parte da bugrada
que acha que tudo o que é bom para
os Estados Unidos é bom para o Brasil não faça jamais menção, no caso
do BC, a esse outro aspecto da missão
estatutária do Fed.
No Brasil, o mais elementar bom
senso manda supor que a missão do
BC não possa limitar-se a manter a
inflação sob controle. Inflação baixa
com crescimento igualmente baixo
não leva a lugar algum e, portanto,
não pode ser o metro com o qual se
mede a competência do banqueiro
central tupiniquim.
Ainda mais quando se está em um
momento no mundo "de notável
transformação estrutural do tipo que
ocorre apenas uma vez a cada século
ou dois", conforme escreve Eisuke Sakakibara, que já foi chamado de "Mr.
Ien", quando era vice-ministro de Assuntos Internacionais do Ministério
japonês de Finanças (atenção, Palocci, artigo em "The International Herald Tribune" de ontem).
"O mundo está mudando de uma
era de inflação estrutural para uma
de deflação, na qual os preços da
maioria dos bens manufaturados ou
serviços comercializáveis caem em
vez de subir", diz Sakakibara, agora
na Keio University.
Pois é, se o BC brasileiro fosse competente, olharia para a frente e veria
um panorama em que o risco maior
não é o da inflação. Ponto, portanto,
para José Alencar.
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