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![]() São Paulo, sexta-feira, 23 de maio de 2003 |
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TENDÊNCIAS/DEBATES Centralismo e democracia, os dilemas do PT
ROBERTO ROMANO
Com o fim das promessas, veio o canto fúnebre do socialismo petista, com um melancólico Termidor. Mas os dirigentes do PT e seus radicais partilham a mesma concepção sobre a disciplina partidária. As regras draconianas contra as minorias foram inscritas no regimento, de comum acordo, porque atendiam à tese que exige obediência da minoria às determinações do maior número. Sigamos Merleau-Ponty. Ele, no comentário a um texto de Claude Lefort ("As Contradições de Trotsky"), afirma que, se o líder da oposição ao stalinismo não se dedicou à tarefa de impor "a democracia do partido contra as manobras do Comitê Central, não foi por clarividência histórica, mas por "enceguecimento" ("As Aventuras da Dialética")". O centralismo democrático, anui o filósofo, "não obriga o oponente a deixar o partido ou a mascarar suas idéias, se, ao defendê-las, continua a obedecer" a direção. Óbice: "Observar a regra da disciplina num partido que não mais obedece à democracia, e que se dispunha a eliminar Trotsky por todos os meios, era jogar para perder e dar armas ao adversário". Trotsky ou Heloísa Helena, mudando-se os nomes, "de te fabula narratur". Arremata Merleau-Ponty: "Os minoritários guardavam o direito de defender suas idéias, não o de agir como um partido no interior do partido. Regra que só pode vigorar acima de um certo grau de tensão política, e quando as divergências não seguem para o essencial". A verdade está no partido -"o laboratório da história". Esse fetiche marcou a consciência de quem seguiu Stálin e dos que defendiam a oposição. "Trotsky no poder manobrou com seus colegas para desonrar a oposição; ele tinha reprimido a comuna de Kronstadt, por que teria hesitado em caluniar Eastmann?" (Merleau-Ponty). O dogma, mais a disciplina que o impunha, era partilhado. A idéia do partido era arriscada porque unia disciplina e democracia. O centralismo democrático seguiu o rumo do primeiro termo contra o segundo. A situação do PT seria diferente se, em vez dos que se formaram em trotskismo, como Antônio Palocci, vencessem os radicais? Todos tiveram a mesma formação, a sua língua é comum. Mais do que nunca, o problema democrático deve ter sido enfrentado, desde longa data, pelos setores mais amplos do PT e por todos os setores progressistas. Ainda existe tempo para mudar a lógica que levou ao fracasso do campo democrático. A primeira providência é repensar as normas que, nos partidos, regem o trato entre direção e minorias. Se José Genoino assume a face, que não lhe cabe, de Vychinski e os dissidentes são assumidos como se fossem os julgados em Moscou, isso se deve à prática e à idéia da política partidária que os dois lados receberam. A solução do impasse encontra-se na democracia, sem irenismos ou silêncios obsequiosos. As duas atitudes degradam a vida ética, no PT ou na República brasileira. Roberto Romano, 57, é professor titular de ética e filosofia política na Unicamp. Texto Anterior: Frases Próximo Texto: Joaquim Falcão: Quem vai mandar na internet? Índice |
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