São Paulo, Quarta-feira, 23 de Junho de 1999
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

ARMADILHA ARGENTINA

Parece que o governo brasileiro finalmente vai abandonar a complacência diante do protecionismo argentino. Em nome da preservação do Mercosul, um objetivo geopolítico louvável, têm sido aceitos custos econômicos crescentes para o Brasil, o que, é óbvio, precisa ter um limite.
A Argentina foi vítima, nos últimos anos, de problemas típicos de âncoras cambiais: perda de competitividade, déficits comerciais, excesso de endividamento externo. Mas a estabilização do peso vingou, entre outras razões, porque o Brasil absorvia cada vez mais bens argentinos, em especial após o Real, quando o governo FHC deixou a moeda se valorizar. Agora que o câmbio foi desvalorizado e que a economia no Brasil sofreu uma forte contração, a Argentina não pode mais contar como antes com esse mercado para compensar os efeitos de sua âncora cambial.
Mas, em vez de se debruçar sobre a raiz do problema, o governo Menem considera mais fácil recorrer ao velho estratagema do bode expiatório.
Ora, os déficits comerciais argentinos com a América do Norte e com a União Européia já duram anos e têm sido crescentes. Eram em boa medida compensados pelo superávit com o Brasil e com o Chile. É portanto ilusório, para dizer o menos, acreditar que o problema de competitividade argentino será resolvido por meio de ações protecionistas contra o Brasil.
Por enquanto, há pelo menos dois pontos em que o governo brasileiro parece disposto a firmar posição: a exclusão de veículos brasileiros do plano argentino de renovação da frota e os certificados técnicos exigidos para a entrada na Argentina de produtos eletroeletrônicos estrangeiros.
A diplomacia e principalmente o governo brasileiros precisam estabelecer um limite. Ainda que haja uma grande estratégia geopolítica de longo prazo, ela não pode servir de justificativa para concessões sem fim.


Texto Anterior: Editorial: VIVER PERIGOSAMENTE
Próximo Texto: São Paulo - Clóvis Rossi: Limites
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.