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ARMADILHA ARGENTINA
Parece que o governo brasileiro finalmente vai abandonar a complacência diante do protecionismo argentino. Em nome da preservação do
Mercosul, um objetivo geopolítico
louvável, têm sido aceitos custos econômicos crescentes para o Brasil, o
que, é óbvio, precisa ter um limite.
A Argentina foi vítima, nos últimos
anos, de problemas típicos de âncoras cambiais: perda de competitividade, déficits comerciais, excesso de
endividamento externo. Mas a estabilização do peso vingou, entre outras razões, porque o Brasil absorvia
cada vez mais bens argentinos, em
especial após o Real, quando o governo FHC deixou a moeda se valorizar. Agora que o câmbio foi desvalorizado e que a economia no Brasil sofreu uma forte contração, a Argentina não pode mais contar como antes
com esse mercado para compensar
os efeitos de sua âncora cambial.
Mas, em vez de se debruçar sobre a
raiz do problema, o governo Menem
considera mais fácil recorrer ao velho estratagema do bode expiatório.
Ora, os déficits comerciais argentinos com a América do Norte e com a
União Européia já duram anos e têm
sido crescentes. Eram em boa medida compensados pelo superávit com
o Brasil e com o Chile. É portanto ilusório, para dizer o menos, acreditar
que o problema de competitividade
argentino será resolvido por meio de
ações protecionistas contra o Brasil.
Por enquanto, há pelo menos dois
pontos em que o governo brasileiro
parece disposto a firmar posição: a
exclusão de veículos brasileiros do
plano argentino de renovação da frota e os certificados técnicos exigidos
para a entrada na Argentina de produtos eletroeletrônicos estrangeiros.
A diplomacia e principalmente o
governo brasileiros precisam estabelecer um limite. Ainda que haja uma
grande estratégia geopolítica de longo prazo, ela não pode servir de justificativa para concessões sem fim.
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