São Paulo, Quarta-feira, 23 de Junho de 1999
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

VIVER PERIGOSAMENTE

As contas externas brasileiras melhoraram nos últimos meses, mas a melhora ocorreu de um modo preocupante. É contra esse fundo ambíguo que o governo está tentando reconstruir sua política econômica.
O Banco Central informa que já voltou a ter acesso a empréstimos mais longos, mas ainda com prazos menores e custos superiores aos que vigiam antes da crise da Rússia.
Os investimentos diretos estrangeiros financiam 86% do déficit externo, mas praticamente metade desses recursos vem da privatização (operações que não se repetirão no futuro).
As pressões de pagamentos externos agora podem ser enfrentadas com o amparo de reservas internacionais de US$ 43,4 bilhões.
Mas pelo menos metade desse lastro tem origem na boa vontade do FMI e de outros países industrializados que socorreram o Brasil no início do ano. É mais dívida externa, ajudando a compor um estoque que hoje alcança US$ 231,6 bilhões.
Outra condição que agora assegura mais tranquilidade nas contas externas é a redução nas importações.
Mas o próprio FMI já aceita metas menos ambiciosas de superávit comercial neste ano e, a julgar pela tendência ao reaquecimento, esperada nos próximos meses, o comércio exterior será ainda uma fonte de preocupação por um bom tempo.
Aliás, as remessas de lucros e dividendos também tendem a cair quando a economia se desaquece. Mas a abertura recente, assim como as privatizações, definem um horizonte de longo prazo em que tais remessas possivelmente aumentarão.
Os números indicam portanto uma melhora no curto prazo, mas também um peso ainda significativo de fatores temporários, como a retração da atividade econômica ou o restante da safra de privatizações.
O país está mais pobre e mais dependente. Felizmente foi possível evitar o pior, após a crise cambial. Mas as condições do ajuste ainda são precárias e o país vive, do ponto de vista financeiro, perigosamente.


Texto Anterior: Editorial: RENOVAÇÃO NA PROCURADORIA
Próximo Texto: Editorial: ARMADILHA ARGENTINA

Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.