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VIVER PERIGOSAMENTE
As contas externas brasileiras melhoraram nos últimos meses, mas a
melhora ocorreu de um modo preocupante. É contra esse fundo ambíguo que o governo está tentando reconstruir sua política econômica.
O Banco Central informa que já voltou a ter acesso a empréstimos mais
longos, mas ainda com prazos menores e custos superiores aos que vigiam antes da crise da Rússia.
Os investimentos diretos estrangeiros financiam 86% do déficit externo, mas praticamente metade desses
recursos vem da privatização (operações que não se repetirão no futuro).
As pressões de pagamentos externos agora podem ser enfrentadas
com o amparo de reservas internacionais de US$ 43,4 bilhões.
Mas pelo menos metade desse lastro tem origem na boa vontade do
FMI e de outros países industrializados que socorreram o Brasil no início
do ano. É mais dívida externa, ajudando a compor um estoque que hoje alcança US$ 231,6 bilhões.
Outra condição que agora assegura
mais tranquilidade nas contas externas é a redução nas importações.
Mas o próprio FMI já aceita metas
menos ambiciosas de superávit comercial neste ano e, a julgar pela tendência ao reaquecimento, esperada
nos próximos meses, o comércio exterior será ainda uma fonte de preocupação por um bom tempo.
Aliás, as remessas de lucros e dividendos também tendem a cair quando a economia se desaquece. Mas a
abertura recente, assim como as privatizações, definem um horizonte de
longo prazo em que tais remessas
possivelmente aumentarão.
Os números indicam portanto uma
melhora no curto prazo, mas também um peso ainda significativo de
fatores temporários, como a retração
da atividade econômica ou o restante
da safra de privatizações.
O país está mais pobre e mais dependente. Felizmente foi possível
evitar o pior, após a crise cambial.
Mas as condições do ajuste ainda são
precárias e o país vive, do ponto de
vista financeiro, perigosamente.
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