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JOÃO SAYAD
Olimpíadas
A marcha olímpica é uma modalidade de corrida ou de marcha
em que o atleta tenta andar o mais depressa possível sem correr, isto é, sem
saltar ou retirar ambos os pés do chão
ao mesmo tempo. O atleta anda se rebolando, mantém os cotovelos no nível da cintura e movimenta os braços
para a frente e para trás. Parece um
passarinho com os pés amarrados por
um ornitólogo cruel.
A economia brasileira está crescendo. A demanda aumentou por causa
do excesso de exportações sobre importações e agora cresce a demanda
por bens de consumo durável, como
celulares, videocassetes, geladeiras etc.
As economias capitalistas sempre
começam a crescer pelo aumento com
gastos supérfluos. A recuperação
americana depois do 11 de Setembro
decorreu dos gastos públicos com as
guerras do Iraque e Afeganistão. No
Brasil, crescem as vendas de eletrodomésticos e eletrônicos, todos compram automóveis para as ruas congestionadas das nossas cidades ou para
viajar em estradas perigosas e esburacadas.
É da natureza das economias capitalistas e é costumeiro na economia brasileira que a recuperação se inicie a
partir de gastos com bens de consumo
duráveis que um homem de bom senso chamaria de supérfluos.
No caso do Brasil, o crescimento deveria, ao menos mais tarde, aumentar
a produção de bens públicos, como
estradas e portos, e a oferta de bens de
salário, isto é, dos bens que representam uma parte importante dos gastos
dos trabalhadores, como transporte
público, habitações, saúde e educação.
O aumento na oferta de bens públicos
e dos bens consumidos pelos trabalhadores aumentaria o salário real e
reduziria a injustiça na distribuição de
renda.
Esses investimentos não podem ser
feitos pelo setor privado, pois não são
rentáveis. Nem o governo brasileiro
pode fazê-los. Arrecada 38% do PIB
em impostos, mas gasta 6% do PIB em
juros -e a dívida pública continua
crescendo.
Há economistas que propõem como
solução um aumento ainda maior do
superávit primário e a manutenção
dos juros no nível absurdo de 10% acima da inflação. Argumentam que,
dessa forma, o risco Brasil diminuiria
e o governo poderia pagar juros menores.
Mesmo com esse esforço, precisaríamos de dez anos para que a dívida pública se reduzisse a 40% do PIB! Por
que reduzir a dívida pública? Bastaria
que ela parasse de crescer, o que exige
apenas juros menores.
Outros propõem a desvinculação
dos gastos do governo em educação e
saúde, de forma que o governo possa
usar esses recursos para pagar juros.
Ou seja, não investimos no fundamental para gastar dinheiro com juros
redundantes, maiores do que o necessário para controlar a inflação.
Nos anos 60, a oposição democrática que depois se transformou em governo criticava o modelo de crescimento do período 68-73 por ser concentrador de renda. Há dez anos que
pagamos juros reais de 10% ao ano todos os anos e transferimos pelo menos
5% da renda para os ricos.
A economia brasileira cresce como
um atleta de marcha olímpica -anda
requebrando-se em movimentos desarmônicos, proibida de correr por razões tão estranhas quanto as que proíbem os atletas de correr.
João Sayad passa a escrever às segundas-feiras
nesta coluna.
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