São Paulo, quarta-feira, 23 de setembro de 2009

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Equação difícil

Proposta dos Estados Unidos para reequilibrar a economia global deveria passar pela desejável reforma do FMI

A CÚPULA do G20, que reunirá mais uma vez as principais economias mundiais a partir de amanhã em Pittsburgh, nos EUA, não mais desperta as grandes expectativas alimentadas no encontro de Washington, em novembro passado. Aquele encontro chegou a ser encarado como o possível ponto de partida para um acordo geral de regulação das transações financeiras e comerciais entre os países -um sucessor do modelo desenhado em 1944, na conferência de Bretton Woods, que ruiu na década de 70.
Ainda que suas pretensões não cheguem a tanto, a proposta a ser apresentada pelo governo americano para corrigir os desequilíbrios que estiveram na origem da crise econômica global é ambiciosa. No que tange ao interesse particular do Brasil, cria-se uma oportunidade para ver atendido o legítimo pleito de ampliação do peso dos países emergentes no Fundo Monetário Internacional. A multiplicidade de interesses envolvidos, entretanto, recomenda acompanhar as negociações com paciência e ceticismo.
Em resumo, os Estados Unidos se dispõem a controlar os gastos de seu governo, parte de um esforço para reduzir o consumo total de sua economia, que nos últimos anos acumulou dívidas e megadéficits comerciais, enquanto o resto do mundo acumulava reservas sem precedentes em dólar. Em contrapartida, os grandes poupadores e exportadores, caso de China, Japão e Alemanha, tratariam de estimular seus mercados internos e, em consequência, suas importações.
O mais evidente obstáculo ao entendimento é o governo chinês, que obtém taxas incomparáveis de crescimento econômico com a política de manter desvalorizada a cotação de sua moeda, o yuan, para baratear seus produtos e impulsionar as vendas ao exterior. O atrativo a ser oferecido aos gigantes Brasil, Rússia, Índia e China, associados na sigla Bric, é o aumento da participação dos países não desenvolvidos no FMI, dos atuais 43% para algo próximo dos 50%.
Mesmo que haja um entendimento entre americanos e Brics, resta a oposição dos países europeus, candidatos naturais à perda de influência no organismo multilateral. A desejável reforma do FMI ainda pode perder força com o arrefecimento da crise.
A medida é mais que razoável diante da rápida expansão da parcela emergente no Produto Interno Bruto mundial, que passou de pouco mais de um terço, até a década passada, para a quase metade de hoje, se considerada a paridade do poder de compra entre as moedas. E se torna mais estratégica uma vez que, pelo modelo imaginado pelos EUA, caberia ao Fundo o monitoramento das metas fixadas para o ordenamento dos fluxos de dinheiro entre os países.


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