São Paulo, quarta, 23 de setembro de 1998

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A toga e o Ratinho

CLÓVIS ROSSI

São Paulo - O publicitário Luís Grottera, presidente da agência que leva seu sobrenome, foi convidado a fazer palestra sobre o Judiciário. Como não é assunto de sua área de atividade, decidiu fazer o que sabe: uma pesquisa sobre a visão que a sociedade tem do Poder Judiciário.
O resultado é simplesmente aterrador. Alguns números:
1 - Ante a pergunta se o pesquisado conhecia algum exemplo de quando a Justiça foi feita no Brasil, 42% não conseguiram citar um só caso.
2 - Quando a pergunta era "para que serve a Justiça no Brasil?", 26% responderam "para nada" e mais 28% divagaram ou erraram a resposta.
3 - É natural, ante dados como esses, que 86% tenham afirmado que "o Brasil é o país da impunidade", uma frase já batida, mas nem por isso menos inquietante ou menos verdadeira.
Aí, chega-se ao ponto que consegue ser mais alarmante: ante a pergunta "quem ajuda mais a fazer justiça para a maioria dos brasileiros?", só 10% cravaram a própria Justiça. A esmagadora maioria (84%) respondeu "a mídia" (o que inclui jornais e, suspeito, principalmente a TV).
Suspeita referendada por outro quesito, no qual os pesquisados concederam aos juízes brasileiros um índice de prestígio de 53%, cinco pontos a menos do que o que outorgam ao apresentador de TV Ratinho.
A partir daí, só cabe transcrever o desabafo de Grottera: "O povo desinformado e com baixo nível educacional está perdendo a noção do significado das instituições clássicas que formam a estrutura pela qual se mantém o sistema democrático. Desamparado, procura substitutos que cumpram a função de instituições que falham e não o convencem da sua eficiência".
É meio caminho andado para a barbárie, já instalada, de resto, em programas tipo Ratinho. Pior: é a barbárie legitimada por substancial fatia da população. Sabe-se como termina essa combinação dantesca.



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