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A toga e o Ratinho
CLÓVIS ROSSI
São Paulo - O publicitário Luís Grottera, presidente da agência que leva
seu sobrenome, foi convidado a fazer
palestra sobre o Judiciário. Como não
é assunto de sua área de atividade, decidiu fazer o que sabe: uma pesquisa
sobre a visão que a sociedade tem do
Poder Judiciário.
O resultado é simplesmente aterrador. Alguns números:
1 - Ante a pergunta se o pesquisado
conhecia algum exemplo de quando a
Justiça foi feita no Brasil, 42% não
conseguiram citar um só caso.
2 - Quando a pergunta era "para que
serve a Justiça no Brasil?", 26% responderam "para nada" e mais 28% divagaram ou erraram a resposta.
3 - É natural, ante dados como esses,
que 86% tenham afirmado que "o
Brasil é o país da impunidade", uma
frase já batida, mas nem por isso menos inquietante ou menos verdadeira.
Aí, chega-se ao ponto que consegue
ser mais alarmante: ante a pergunta
"quem ajuda mais a fazer justiça para
a maioria dos brasileiros?", só 10%
cravaram a própria Justiça. A esmagadora maioria (84%) respondeu "a
mídia" (o que inclui jornais e, suspeito, principalmente a TV).
Suspeita referendada por outro quesito, no qual os pesquisados concederam aos juízes brasileiros um índice
de prestígio de 53%, cinco pontos a
menos do que o que outorgam ao
apresentador de TV Ratinho.
A partir daí, só cabe transcrever o
desabafo de Grottera: "O povo desinformado e com baixo nível educacional está perdendo a noção do significado das instituições clássicas que formam a estrutura pela qual se mantém
o sistema democrático. Desamparado,
procura substitutos que cumpram a
função de instituições que falham e
não o convencem da sua eficiência".
É meio caminho andado para a barbárie, já instalada, de resto, em programas tipo Ratinho. Pior: é a barbárie legitimada por substancial fatia da
população. Sabe-se como termina essa
combinação dantesca.
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