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Desemprego e inflação
CARLOS HEITOR CONY
Rio de Janeiro - A taxa de desemprego no país está sendo explicada -e às
vezes justificada- pelo sucesso no
combate à inflação. O governo e a excitada corte que o rodeia brandem esse argumento como se exibissem a nova tábua da lei: inflação é o pior dos
males; desemprego é um simples ajuste
no mercado. A longo, aliás longuíssimo prazo, tudo se resolverá, e teremos
enfim a Idade de Ouro neoliberal.
Vamos com calma. Países que tiveram taxas de inflação iguais ou superiores à do Brasil (cito os exemplos de
Israel nos anos 80 e da Alemanha nos
anos 20) conseguiram sair do vinagre
sem condenar a massa de seus cidadãos ao pânico provocado pela miséria.
Certo que a inflação é um imposto
alto que os pobres também pagam.
Mas, pelo menos no caso brasileiro,
havia acomodações que não resolviam
o problema, mas o atenuavam.
Sem qualquer atenuante é o desemprego que já afeta um gigantesco contingente de seres humanos e que
ameaça a todos, sobretudo se associado à recessão, uma realidade mais
real do que o plano de FHC.
Nos últimos anos do governo Sarney,
quando chegamos à superinflação, de
mês a mês os salários nominais subiam mais ou menos na proporção do
custo de vida. Era uma situação crítica, desastrosa, sabíamos que a decantada espiral inflacionária teria de
acabar, antes que ela acabasse com a
gente.
Não acabou. Bem ou mal, apertando
aqui e ali, criados mecanismos de contabilidade que, uns mais, outros menos, compensavam as perdas, ia-se levando. Não havia a angústia que agora maltrata o cidadão empregado.
Nem o desespero de quem perdeu o
emprego e, no quadro recessivo provocado pela inépcia do governo, não tem
condições de ser readmitido no mercado de trabalho.
O governo enxugou o orçamento da
sociedade, sucateou a indústria, aviltou o comércio. Mas continua enxundioso em seus gastos, refocilando-se
no pagamento de juros aos especuladores. Enxugou apenas quem já estava mais do que enxuto: o povo.
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