São Paulo, quarta, 23 de setembro de 1998

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Desemprego e inflação

CARLOS HEITOR CONY

Rio de Janeiro - A taxa de desemprego no país está sendo explicada -e às vezes justificada- pelo sucesso no combate à inflação. O governo e a excitada corte que o rodeia brandem esse argumento como se exibissem a nova tábua da lei: inflação é o pior dos males; desemprego é um simples ajuste no mercado. A longo, aliás longuíssimo prazo, tudo se resolverá, e teremos enfim a Idade de Ouro neoliberal.
Vamos com calma. Países que tiveram taxas de inflação iguais ou superiores à do Brasil (cito os exemplos de Israel nos anos 80 e da Alemanha nos anos 20) conseguiram sair do vinagre sem condenar a massa de seus cidadãos ao pânico provocado pela miséria.
Certo que a inflação é um imposto alto que os pobres também pagam. Mas, pelo menos no caso brasileiro, havia acomodações que não resolviam o problema, mas o atenuavam.
Sem qualquer atenuante é o desemprego que já afeta um gigantesco contingente de seres humanos e que ameaça a todos, sobretudo se associado à recessão, uma realidade mais real do que o plano de FHC.
Nos últimos anos do governo Sarney, quando chegamos à superinflação, de mês a mês os salários nominais subiam mais ou menos na proporção do custo de vida. Era uma situação crítica, desastrosa, sabíamos que a decantada espiral inflacionária teria de acabar, antes que ela acabasse com a gente.
Não acabou. Bem ou mal, apertando aqui e ali, criados mecanismos de contabilidade que, uns mais, outros menos, compensavam as perdas, ia-se levando. Não havia a angústia que agora maltrata o cidadão empregado. Nem o desespero de quem perdeu o emprego e, no quadro recessivo provocado pela inépcia do governo, não tem condições de ser readmitido no mercado de trabalho.
O governo enxugou o orçamento da sociedade, sucateou a indústria, aviltou o comércio. Mas continua enxundioso em seus gastos, refocilando-se no pagamento de juros aos especuladores. Enxugou apenas quem já estava mais do que enxuto: o povo.



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