São Paulo, quarta, 23 de setembro de 1998

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Uma reflexão sobre o Senado


Vivemos um momento de crise internacional. O presidente precisa de um aliado no Senado, não de um opositor


JOÃO LEITE NETO

Muitas pessoas me perguntam por que me afastei temporariamente da televisão e me propus a uma candidatura ao Senado. Na verdade, essa decisão não foi nada fácil. Afinal, como apresentador de um programa jornalístico popular (vice-líder de audiência no horário) e após 30 anos de militância diária na imprensa, passando por jornais, revistas, rádios e TVs, tendo sido o primeiro repórter de São Paulo na histórica primeira edição do "Jornal Nacional", adquiri naturalmente ampla e diversificada visão dos problemas sociais.
Nenhuma outra profissão oferece essa gama de informações e vivências das mais diferentes situações, cobrindo um incêndio na favela pela manhã, almoçando com o presidente da República em outra cobertura e acompanhando um sequestro no final da pauta diária.
Por outro lado, na mesma proporção, o jornalista se frustra ao ver seu trabalho esvaziado, por não participar da solução dos problemas que denuncia. Esse fato, ao longo dos anos, acaba levando a uma conclusão: não basta denunciar, criticar, apontar falhas. É preciso participar da decisão.
Já fui questionado até por alguns colegas, com um velho e surrado argumento: "A política é coisa de gente suja. Não entre nessa, João". Mas, se todos pensarem assim, a política ficará sempre nas mãos dos "sujos".
Já ouvi também que a política "é coisa para profissional da política". Nesse caso, devemos ter cuidado com os políticos que querem fazer do Senado da República palco de seus interesses político-partidários, votando sempre contra os interesses do Estado e do país.
Exerci duas funções em minha vida: a de jornalista, como profissional, e a política, como um idealista. Nas próximas eleições, as pesquisas eleitorais indicam, além do meu, dois nomes com possíveis condições de vitória. A um já foi dada a oportunidade de exercer o mandato por longos oito anos; muito pouco pudemos usufruir desse período, a não ser algumas participações em fatos da vida pública brasileira que culminaram com a mordida de um cão.
Em relação ao outro, o que se oferece é mais uma piada de mau gosto de um eterno candidato, que, do bolso do seu colete, já nos "premiou" recentemente com outra invenção: o "Pittanic". Esse outro pupilo do mesmo criador nos brinda agora com uma frase: "Vou acabar com as drogas". Pela sua experiência anterior, isso só seria possível se ele desse uma bolada nos traficantes, o que, convenhamos, é muito pouco.
Acabar com as drogas não depende da ação de principiantes ou atletas bem-intencionados. Exige um mínimo de conhecimento e experiência na área, principalmente quando o assunto diz respeito ao tráfico internacional de drogas e ao envolvimento de jovens. Isso é assunto muito sério; não deveria ser tratado de maneira leviana, arremessado no ar como jogada de grande efeito de marketing, desdenhando a dor de famílias que são obrigadas a conviver com o drama da vida real.
Eleitor: o momento exige reflexão. Vivemos um momento de crise econômica internacional. O presidente precisa de um aliado no Senado, não de um contumaz opositor. Pense e vote certo.


João Leite Neto, 55, jornalista, foi deputado estadual pelo MDB-SP de 1978 a 82. É candidato ao Senado, em São Paulo, pela coligação PSDB-PTB-PSD.




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