São Paulo, quarta-feira, 23 de outubro de 2002

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CAUTELA COM O FMI

O governo tem agendada reunião com o FMI em novembro. Provavelmente também estarão à mesa representantes do futuro presidente. Em pauta estarão a verificação do cumprimento das metas do acordo de setembro (o que determinará se o Brasil poderá receber mais uma parcela do empréstimo) e, igualmente importante, a pactuação de metas para o próximo trimestre.
Pressionada pela forte alta do dólar e pelo aumento da taxa de juros, a dívida do setor público tem ficado acima do previsto. É possível que o Fundo proponha, visando manter a dívida sob controle, uma elevação da meta para o superávit primário.
Os negociadores brasileiros deveriam resistir a essa proposta. A meta atual, de um superávit primário da ordem de 3,8% do PIB, já é ambiciosa. Além disso, caberia direcionar a discussão para um horizonte de tempo mais longo. Hoje um aumento do superávit primário pode parecer recomendável, mas daqui a alguns meses essa impressão poderá ter se esvaído -entre outras razões, porque a pressão do dólar sobre a dívida poderá se revelar transitória.
A alta do dólar reflete, entre outros fatores, a fragilidade das contas externas. Mas a desvalorização do real ajuda a reduzir essa fragilidade, como mostra a melhora muito rápida do saldo comercial. Com o passar dos meses, essa melhora tende a reduzir o risco atribuído ao país, atenuando a pressão sobre a taxa de juros e a própria cotação do dólar.
Além disso, existe a possibilidade de que a cotação do dólar recue em prazo mais curto. Parte relevante da sua alta reflete desconfianças quanto à futura política econômica. Se o novo presidente conseguir reduzir essas desconfianças, o dólar pode cair. Essa queda melhoraria as expectativas sobre a inflação e criaria condições para cortar os juros.
Prometer um superávit primário muito alto pode ser arriscado, pois as dificuldades para obtê-lo são grandes e poderiam ficar evidentes em pouco tempo. Para conquistar confiança, parece preferível, conforme tem sugerido o presidente do Banco Central, comprometer-se com superávit fiscal similar ao atual e empenhar-se em cumprir essa meta de modo sustentado.


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