São Paulo, quarta-feira, 23 de outubro de 2002

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CARLOS HEITOR CONY

O exemplo da Paraíba

RIO DE JANEIRO - Alguns leitores estranham quando o cronista desperdiça o espaço de um jornal com assuntos fora da política, do dia-a-dia prosaico das campanhas eleitorais e das idas e vindas da economia.
Acontece que a vida nacional não é limitada pelos temas políticos, sociais ou econômicos. Há também a vida cultural, que não é a vida artística em si, merecidamente coberta pela mídia. E, como expressão dessa vida cultural, registro o Fórum de Debates promovido, na semana passada, pelo Tribunal de Justiça da Paraíba.
Seria natural que os debates fossem dedicados a temas e a personagens jurídicos. Por iniciativa de Marcos Souto Maior, presidente daquele órgão, a pauta do encontro foi dirigida aos grandes vultos da cultura paraibana, entre os quais José Américo de Almeida, Pedro Américo, Augusto dos Anjos, João Lira Filho, Assis Chateaubriand e José Lins do Rego.
Um político, um pintor, um poeta, um educador, um jornalista e um romancista que, entre outros, colocaram o nome da Paraíba no patrimônio cultural do Brasil. Curiosamente, no mesmo dia e na mesma hora em que o embaixador Alberto da Costa e Silva falava sobre Augusto dos Anjos para um auditório repleto de alunos, de professores, de juízes e de jornalistas, um candidato presidencial arrastava uma multidão nas ruas de João Pessoa.
A predominância do debate eleitoral, imenso em sua expressão numérica, não prejudicou o debate cultural, antes o valorizou. Pelo menos em João Pessoa há espaço e clima para manifestações do pluralismo que deve formar a consciência nacional.
O povo aclamando o seu candidato, que, certo ou errado, criou expectativas de um país melhor e mais justo. E um grupo grande de intelectuais, mas desproporcional em quantidade, debatendo a poesia estranha, única, de um poeta que continua sendo um dos casos mais brilhantes de nossa vida cultural.


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