São Paulo, quarta-feira, 23 de outubro de 2002

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FERNANDO RODRIGUES

A primeira crise

BRASÍLIA - Na prática, o governo Lula começou no último fim de semana. Uma tsunami de boatos sobre iminentes ataques pessoais contra o petista tomou conta do eixo Rio-São Paulo-Brasília.
Objetivamente, falava-se sobre uma fita de vídeo que seria constrangedora para o candidato petista. As supostas imagens seriam de 1991, durante e após de um jantar, em Manaus. Trata-se apenas de um rumor. Não se encontra um ser vivo capaz de afirmar: "Eu vi a fita".
Ex-presidentes da República, ex-governadores de Estado, gente importante da política nacional foi acionada. Um tucano de alto coturno pensou em telefonar para FHC no sábado à noite. Não se sabe se o fez, mas seu assessor chegou a anunciar a conversa: "Ele vai dizer que, se essa tal fita aparecer, ele sairá da campanha e se tornará um dissidente feroz".
O presidente nacional do PT, José Dirceu, também mandou seu recado para FHC. De forma elegante, sem querer ameaçar, mas já ameaçando, afirmou que ataques pessoais provocariam um troco muito vigoroso.
No domingo à noite, quando apareceria o pronunciamento bombástico de José Serra, só veio uma repetição daquilo que o tucano falou ao longo das últimas semanas.
Será impossível dizer antes do final do processo eleitoral se a mobilização do PT surtiu efeito. Ou se foi apenas um esforço inútil, dada a inexistência da fita. Os tucanos -incluído aí o próprio José Serra- negam terem pensado em alguma estratégia que envolvesse ataques pessoais.
Não importa. A cúpula petista deu uma demonstração de como se comportará se for eleita. Primeiro, o candidato não foi informado do que se passava até quando foi possível. Segundo, mais da metade da República foi mobilizada para abafar o que poderia surgir.
Foi um bom treino para crises futuras. Mas será muito mais difícil debelar um problema quando e se Lula ganhar o Palácio do Planalto.


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