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FERNANDO RODRIGUES
A primeira crise
BRASÍLIA - Na prática, o governo Lula começou no último fim de semana.
Uma tsunami de boatos sobre iminentes ataques pessoais contra o petista tomou conta do eixo Rio-São
Paulo-Brasília.
Objetivamente, falava-se sobre
uma fita de vídeo que seria constrangedora para o candidato petista. As
supostas imagens seriam de 1991, durante e após de um jantar, em Manaus. Trata-se apenas de um rumor.
Não se encontra um ser vivo capaz de
afirmar: "Eu vi a fita".
Ex-presidentes da República, ex-governadores de Estado, gente importante da política nacional foi acionada. Um tucano de alto coturno pensou em telefonar para FHC no sábado à noite. Não se sabe se o fez, mas
seu assessor chegou a anunciar a conversa: "Ele vai dizer que, se essa tal fita aparecer, ele sairá da campanha e
se tornará um dissidente feroz".
O presidente nacional do PT, José
Dirceu, também mandou seu recado
para FHC. De forma elegante, sem
querer ameaçar, mas já ameaçando,
afirmou que ataques pessoais provocariam um troco muito vigoroso.
No domingo à noite, quando apareceria o pronunciamento bombástico de José Serra, só veio uma repetição daquilo que o tucano falou ao
longo das últimas semanas.
Será impossível dizer antes do final
do processo eleitoral se a mobilização
do PT surtiu efeito. Ou se foi apenas
um esforço inútil, dada a inexistência
da fita. Os tucanos -incluído aí o
próprio José Serra- negam terem
pensado em alguma estratégia que
envolvesse ataques pessoais.
Não importa. A cúpula petista deu
uma demonstração de como se comportará se for eleita. Primeiro, o candidato não foi informado do que se
passava até quando foi possível. Segundo, mais da metade da República
foi mobilizada para abafar o que poderia surgir.
Foi um bom treino para crises futuras. Mas será muito mais difícil debelar um problema quando e se Lula
ganhar o Palácio do Planalto.
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