![]() São Paulo, quarta-feira, 23 de outubro de 2002 |
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TENDÊNCIAS/DEBATES Ajuste fiscal x festival de fundos IVES GANDRA MARTINS e CID HERACLITO DE QUEIROZ
O chamado ajuste fiscal, gerador
do superávit primário indispensável à estabilização monetária, vem sendo alcançado pela acentuada elevação
da carga tributária (34% do PIB). Nas
conjunturas difíceis, são efetuados, na
despesa orçamentária, alguns cortes,
que acabam atingindo setores importantes, como as Forças Armadas. Alega-se que a maior parte das receitas federais é vinculada a determinados fins,
restando, em consequência, pequena
margem de manobra para o governo.
Além dos fundos constitucionais de financiamento do Norte, Nordeste e Centro-Oeste (R$ 2,7 bilhões), outros se justificam pela própria natureza: regime geral da Previdência Social (R$ 85 bilhões), amparo ao trabalhador (R$ 11 bilhões), compensação de variações salariais (R$ 1,1 bilhão) e os destinados a despesas militares: aeronáutico (R$ 870 milhões), Exército (R$ 429 milhões), naval (R$ 416 milhões) e serviço militar (R$ 5 milhões). Todavia, a outros 37 fundos, o Orçamento de 2002 consigna dotações num total de R$ 44,4 bilhões. A cada exercício novas verbas são consignadas. Esses fundos sustentam as estruturas de poder, o que, aliás, é confirmado pela comparação entre uns e outros e pela ilogicidade entre os fins da afetação e os valores afetados (em milhões de reais): Aeroviário (70,6), antidrogas (9,3), assistência social (4.600), atividades de fiscalização da Receita Federal (3.959), atividade-fim da Polícia Federal (212,9), criança e adolescente (4,1), cultura (97,9), defesa dos direitos difusos (8,3), defesa da economia cafeeira (895,4), desenvolvimento da Amazônia (440) e do Nordeste (660), desenvolvimento científico e tecnológico (760,4), desenvolvimento da Educação (3.217), editoração e publicação do Senado (6,1), ensino profissional marítimo (39,1), especial do Senado (0,5), financiamento ao estudante superior (624), garantia à exportação (408,1), garantia para promoção da competitividade (70,2), Hospital das Forças Armadas (68,3), Imprensa Nacional (108,7), informática do Senado (0,9), marinha mercante (905,2), meio ambiente (44,4), Ministério da Defesa (8,5), nacional de desenvolvimento (561), nacional da Saúde (24.230), penitenciário (208,5), rotativo da Câmara dos Deputados (10,2), segurança e educação do trânsito (82,8), segurança pública (338,6), seguro rural (9,2), serviços de telecomunicações (1.161), tecnológico das telecomunicações (255,2), terras e reforma agrária (332,7), treinamento e desenvolvimento (13,5) e turismo (11,3). A extinção desses fundos constituiria medida saneadora, sobretudo na atual conjuntura, dada a necessidade de elevação do superávit primário, para possibilitar a redução de nossa exagerada dívida interna. O governo do presidente Fernando Henrique, a quem tanto deve o país, como a excelente Lei de Responsabilidade Fiscal, ainda pode extinguir todos esses fundos e restaurar a universalidade e a unicidade do Orçamento da União. Ives Gandra da Silva Martins, 67, advogado tributarista, é professor emérito das universidades Mackenzie e Paulista e presidente do Conselho Jurídico da Fecomércio-SP. Cid Heraclito de Queiroz, 68, é consultor jurídico da presidência da Confederação Nacional do Comércio. Foi procurador-geral da Fazenda Nacional (1979-91). Texto Anterior: Frases Próximo Texto: Luiza Nagib Eluf: O Brasil em chamas Índice |
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