São Paulo, quinta-feira, 23 de outubro de 2003 |
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TENDÊNCIAS/DEBATES O Estado precisa de parceiros
ROBERTO AMARAL
Tudo isso nos leva à conclusão de que aqui, mais do que na Europa e nos EUA e talvez tanto quanto na China e na Coréia, as políticas públicas foram construtoras do progresso. E a experiência mostra que a "globalização" exige o fortalecimento dos Estados nacionais, inclusive de seu papel indutor em projetos próprios de desenvolvimento. Essas políticas públicas deveriam ter sido complementadas por uma maior participação da iniciativa privada, como hoje se prioriza. Na contramão, todavia, outros modelos de desenvolvimento industrial tardio foram adotados, primeiro com a importação de fábricas e montadoras de produtos obsoletos (a indústria automobilística é o melhor exemplo), depois com a atração de multinacionais (que aqui, como regra, não investiriam em inovação) e, finalmente, com o apelo ao capital meramente especulativo. A reversão desse processo consolidado é naturalmente lenta, porque envolve aspectos culturais e representações de realidade. Daí a importância ainda grande dos recursos públicos e todo o esforço do governo de mudanças do presidente Lula, dentro de seu compromisso com a retomada do desenvolvimento e a inclusão social, em favor do maior investimento possível em ciência e tecnologia, em benefício do futuro. O presidente já anunciou a decisão de, até o final deste mandato, estar o país investindo pelo menos 2% do PIB nacional em C&T. Com todas as dificuldades, já aplicamos neste ano 30% a mais do que no ano passado. O governo Lula, investindo prioritariamente em recursos humanos, aumentou o número de bolsas do CNPq e pôs em ação um extenso programa para integrar o sistema universidades públicas/Estados e levar a política de formação de mestres e doutores a todas as unidades da Federação. Mas esse esforço não pode ser apenas do poder público. A universidade privada pouco se dedica à ciência. E a empresa também pouco investe, enquanto a Petrobras oferece a todo o mundo dos negócios o fantástico exemplo de seu centro de pesquisas, o Cenpes, a alavanca mais importante de seu sucesso. É crucial a participação do empresariado brasileiro, absorvendo doutores e pesquisadores, investindo em tecnologia e inovação. Para isso, poder público e iniciativa privada, universidades e empresas terão de se entender como parceiros de um mesmo projeto: o desenvolvimento sustentável de nosso país. Roberto Amaral, 62, advogado e cientista política, vice-presidente nacional do PSB, é o ministro da Ciência e Tecnologia. Texto Anterior: Frases Próximo Texto: Eleuses Vieira de Paiva e Rafael Guerra: A saúde pública pede socorro Índice |
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