São Paulo, quinta-feira, 23 de outubro de 2003 |
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TENDÊNCIAS/DEBATES A saúde pública pede socorro
ELEUSES VIEIRA DE PAIVA e RAFAEL GUERRA
A manobra em curso provocará forte reversão na tendência de aumento das aplicações em saúde, verificada desde 2000. Em razão da emenda 29, os gastos com saúde subiram de R$ 18,353 bilhões, em 1999, para R$ 27,783 bilhões, em 2003, o que corresponde a um aumento de 51% em apenas cinco anos. Com a inclusão, por parte do atual governo, do Fundo de Combate à Pobreza no orçamento da saúde de 2004, o total destinado ao setor para o próximo ano ficará em R$ 28,906 bilhões, o que representa aumento de apenas 4% -menos da metade da inflação prevista para este ano. Outro aspecto grave do problema é o mau exemplo dado pelo governo federal aos Estados e municípios. Já há vários casos de administrações estaduais que se inspiraram na iniciativa federal para incluir na rubrica da saúde gastos com outros itens, como despesas com restaurantes populares. Projeções indicam que a perda total de recursos para a saúde, nos três níveis de governo, pode chegar a R$ 10 bilhões em 2004. Também é motivo de apreensão o ressurgimento, na tramitação da reforma tributária no Senado, da proposta de Desvinculação das Receitas dos Estados. É importante lembrar que o aumento de recursos para o setor verificado a partir de 2000 provocou o início de uma profunda transformação na saúde pública. Exemplos significativos são os resultados obtidos após a adoção do programa de combate e prevenção à Aids e a drástica redução da mortalidade infantil ao longo da década passada. Considerado modelo pela Organização Mundial da Saúde e pela ONU, o programa de combate à Aids fez cair à metade a mortalidade da doença no país. Tornou-se exemplo para vários países. Mas o mais expressivo indicador dos progressos alcançados na saúde pública nos últimos anos é a queda na mortalidade infantil. O índice caiu de 47,8 crianças menores de 1 ano para cada mil nascidas vivas, em 1990, para 29,6 crianças em 2000. Por tudo isso, não ficaremos indiferentes às atuais tentativas do governo de desviar os recursos da saúde, assegurados nos últimos anos pela ampla mobilização dos agentes envolvidos na área. É hora de essas forças, mais uma vez, somarem-se para impedir que a ameaça a tais conquistas se torne realidade, com resultados desastrosos para a qualidade de vida de toda a população brasileira, principalmente a mais carente. Eleuses Vieira de Paiva, 50, médico especialista em medicina nuclear, é presidente da AMB. José Rafael Guerra Pinto Coelho, 60, médico gastroenterologista, é deputado federal (PSDB-MG) e presidente da Frente Parlamentar de Saúde. Foi secretário da Saúde do Estado de Minas Gerais (1995-98). Texto Anterior: TENDÊNCIAS/DEBATES Roberto Amaral: O Estado precisa de parceiros Próximo Texto: Painel do leitor Índice |
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