São Paulo, sábado, 23 de outubro de 2004

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CLÓVIS ROSSI

Metáforas e mentiras

LISBOA - Enquanto eram apenas pobres, as metáforas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva podiam ser lamentáveis, mas não causavam males maiores.
A mais recente delas, em discurso a agentes de viagem, passou dos limites. Reproduzo-a a seguir:
"Se o cidadão toma um cascudo da mulher à noite porque chegou tarde, ele não vai dizer: a minha mulher me deu um cascudo. Ele vai dizer: a minha mulher ficou brava, nervosa, mas a cabeça está doendo".
Quando o principal funcionário público convida à mentira, ao ocultamento de fatos graves, tem-se um péssimo exemplo de liderança. Se um homem "leva um cascudo" da mulher, ou a mulher, como é muitíssimo mais comum, "leva um cascudo" do homem, deve ir à polícia, apresentar queixa e separar-se em vez de mentir e de fingir.
É esse ocultamento, recomendado por Lula, que está na origem da violência doméstica que faz incontáveis vítimas entre as mulheres.
Continuando na infeliz metáfora, Lula comparou a situação à de uma família que não revela suas brigas.
"Vocês não ficam contando as brigas de vocês dentro de casa? É porque a gente quer preservar nossa família e nossa imagem".
Mais um péssimo exemplo. A imagem de quem quer que seja não é preservada ocultando fatos graves, mentindo. É preservada quando se corrigem os problemas que deram origem às brigas. Só assim.
Dá para entender, em todo o caso, porque o presidente sugere ocultar a verdade. Ele usou as suas pobres metáforas para dizer que não convém mostrar totalmente a violência, que é um dos graves problemas brasileiros, para não espantar turistas.
Entende-se pela simples e boa razão que, em praticamente dois anos de governo, Lula foi absolutamente incapaz de atacar o problema da criminalidade e da violência. Então, é melhor mesmo ocultar os fatos. Pena que, oculto ou exposto, o problema continua existindo -e aumentando.


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