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CLÓVIS ROSSI
Metáforas e mentiras
LISBOA - Enquanto eram apenas pobres, as metáforas do presidente Luiz
Inácio Lula da Silva podiam ser lamentáveis, mas não causavam males
maiores.
A mais recente delas, em discurso a
agentes de viagem, passou dos limites. Reproduzo-a a seguir:
"Se o cidadão toma um cascudo da
mulher à noite porque chegou tarde,
ele não vai dizer: a minha mulher me
deu um cascudo. Ele vai dizer: a minha mulher ficou brava, nervosa,
mas a cabeça está doendo".
Quando o principal funcionário
público convida à mentira, ao ocultamento de fatos graves, tem-se um péssimo exemplo de liderança. Se um
homem "leva um cascudo" da mulher, ou a mulher, como é muitíssimo
mais comum, "leva um cascudo" do
homem, deve ir à polícia, apresentar
queixa e separar-se em vez de mentir
e de fingir.
É esse ocultamento, recomendado
por Lula, que está na origem da violência doméstica que faz incontáveis
vítimas entre as mulheres.
Continuando na infeliz metáfora,
Lula comparou a situação à de uma
família que não revela suas brigas.
"Vocês não ficam contando as brigas de vocês dentro de casa? É porque
a gente quer preservar nossa família
e nossa imagem".
Mais um péssimo exemplo. A imagem de quem quer que seja não é preservada ocultando fatos graves, mentindo. É preservada quando se corrigem os problemas que deram origem
às brigas. Só assim.
Dá para entender, em todo o caso,
porque o presidente sugere ocultar a
verdade. Ele usou as suas pobres metáforas para dizer que não convém
mostrar totalmente a violência, que é
um dos graves problemas brasileiros,
para não espantar turistas.
Entende-se pela simples e boa razão
que, em praticamente dois anos de
governo, Lula foi absolutamente incapaz de atacar o problema da criminalidade e da violência. Então, é melhor mesmo ocultar os fatos. Pena
que, oculto ou exposto, o problema
continua existindo -e aumentando.
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