São Paulo, sábado, 23 de novembro de 2002

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"CORRALITO" REVOGADO

O governo argentino deu mais um passo no seu longo e doloroso ajuste econômico. Liberou os pesos retidos em contas de poupança e depósitos a vista, artifício conhecido como "corralito".
Medidas como essa em geral são vistas nos meios financeiros como um dos caminhos rumo à hiperinflação. Como é elevadíssima a desconfiança e a incerteza com relação ao futuro, a tendência nesses casos é a liberação produzir uma corrida para o dólar. Em tese, viria uma hiperinflação possivelmente rápida, que afinal "queimaria" toda essa riqueza.
O governo argentino chega a esse ponto menos por estratégia e mais por força das circunstâncias. Os "amparos" (liminares) de correntistas na Justiça chegavam já a dezenas de milhares e minavam a credibilidade da política econômica argentina.
Um dos obstáculos a um acordo com o FMI e motivo de descrédito externo era a ausência de um modelo consensual sobre como atender aos direitos confirmados na Justiça sem desequilibrar o sistema bancário e, de resto, afetar o valor da moeda.
A hipótese de uma corrida para o dólar e de uma hiperinflação, no entanto, é relativamente mais baixa nesse momento. A Argentina faz a defesa das suas reservas internacionais que, embora baixas, dão algum fôlego ao seu banco central.
Outro motivo para duvidar do pior é que a inflação caiu, houve alguma reanimação econômica e aumentaram os depósitos a prazo. E vinham aumentando as reservas bancárias em relação ao total de depósitos.
Ou seja, ao contrário do ano passado, quando houve uma corrida que colocou em risco a sobrevivência dos bancos, nesse momento eles estão relativamente mais saudáveis.
O fator decisivo, no entanto, será o grau de confiança dos depositantes.
O FMI vira as costas para a Argentina. Na melhor hipótese ocorre agora mais uma pressão cambial e inflacionária, tornando ainda mais doloroso um ajuste econômico cujo final ninguém se atreve a adivinhar.


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