São Paulo, sábado, 23 de novembro de 2002

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GUERRAS DE RELIGIÃO

Os conflitos religiosos entre muçulmanos e cristãos na Nigéria, que já deixaram mais de 100 mortos e 500 feridos nos últimos dias, dão bem a dimensão do problema do fanatismo religioso.
Os confrontos começaram por causa de uma matéria de jornal, na qual o autor, comentando o concurso de Miss Mundo, marcado para ocorrer em Abuja (capital) no próximo dia 7, afirmou que o profeta Maomé, se tivesse oportunidade, "provavelmente escolheria uma esposa entre as concorrentes".
O texto é de uma infelicidade ímpar. Ele falta com respeito para com a principal figura do islamismo e o faz num país divido entre muçulmanos e cristãos, no qual massacres religiosos entraram para a rotina.
É claro que esse deslize por parte do jornal "ThisDay" -pelo qual, aliás, já pediu desculpas- não justifica a reação de jovens muçulmanos, que saíram por algumas das principais cidades nigerianas assassinando quem lhes parecesse cristão.
A tensão entre muçulmanos e cristãos vem se agravando desde 1999, quando o cristão Olusegun Obasanjo foi eleito presidente. Em resposta, Estados do norte do país (onde se concentram os muçulmanos) começaram a utilizar tribunais islâmicos que aplicam a "sharia", a lei muçulmana, para julgar casos criminais.
Isso elevou a tensão entre as duas comunidades, levando a confrontos que produziram centenas de mortos. Também comprometeu a imagem externa da Nigéria, depois que algumas mulheres foram condenadas à morte por apedrejamento por ter supostamente mantido relações extraconjugais. A realização do concurso de Miss Mundo no país visava justamente a melhorar a imagem.
O grande problema da Nigéria é que, embora a democracia esteja avançando no país, ela ainda é precária. Não foi capaz de estabelecer uma separação forte entre Estado e religiões e produzir instituições laicas que permitam às duas comunidades viver e rezar em paz.


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