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GUERRAS DE RELIGIÃO
Os conflitos religiosos entre
muçulmanos e cristãos na Nigéria, que já deixaram mais de 100
mortos e 500 feridos nos últimos
dias, dão bem a dimensão do problema do fanatismo religioso.
Os confrontos começaram por
causa de uma matéria de jornal, na
qual o autor, comentando o concurso de Miss Mundo, marcado para
ocorrer em Abuja (capital) no próximo dia 7, afirmou que o profeta
Maomé, se tivesse oportunidade,
"provavelmente escolheria uma esposa entre as concorrentes".
O texto é de uma infelicidade ímpar. Ele falta com respeito para com
a principal figura do islamismo e o
faz num país divido entre muçulmanos e cristãos, no qual massacres religiosos entraram para a rotina.
É claro que esse deslize por parte
do jornal "ThisDay" -pelo qual,
aliás, já pediu desculpas- não justifica a reação de jovens muçulmanos,
que saíram por algumas das principais cidades nigerianas assassinando quem lhes parecesse cristão.
A tensão entre muçulmanos e cristãos vem se agravando desde 1999,
quando o cristão Olusegun Obasanjo foi eleito presidente. Em resposta,
Estados do norte do país (onde se
concentram os muçulmanos) começaram a utilizar tribunais islâmicos
que aplicam a "sharia", a lei muçulmana, para julgar casos criminais.
Isso elevou a tensão entre as duas
comunidades, levando a confrontos
que produziram centenas de mortos.
Também comprometeu a imagem
externa da Nigéria, depois que algumas mulheres foram condenadas à
morte por apedrejamento por ter supostamente mantido relações extraconjugais. A realização do concurso
de Miss Mundo no país visava justamente a melhorar a imagem.
O grande problema da Nigéria é
que, embora a democracia esteja
avançando no país, ela ainda é precária. Não foi capaz de estabelecer uma
separação forte entre Estado e religiões e produzir instituições laicas
que permitam às duas comunidades
viver e rezar em paz.
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